quinta-feira, 4 de março de 2010

Perguntar, não ofende!


Talvez haja poucas coisas piores para a boa convivência social do que as atitudes de gente "folgada". O "folgado", ou a "folgada", vive só no próprio mundo e apenas se lembra que existem outras pessoas quando precisa delas. "Folgados" são especialistas em incomodar sem se incomodarem e não têm inteligência suficiente para saber que colaborar com o outro é, também, benéfico para eles próprios.

Gente "folgada", geralmente, atravessa o veículo na rua, bloqueando a passagem de outros carros, enquanto vai calmamente abrir o portão da própria residência. Para o carro em qualquer lugar: no meio de uma avenida movimentada, em locais proibidos, na frente da entrada ou saída de outros veículos e, mesmo quando jovens e saudáveis, estacionam nas vagas reservadas para idosos e deficientes. Gente "folgada" larga o carrinho de supermercado no meio do corredor enquanto vai decidir o que pegar na gôndola do outro corredor. Gente "folgada" fuma no meio de não-fumantes sem o consentimento destes, ouve som alto em lugares públicos, bloqueia a passagem nas escadas rolantes, enfim, não se compadece de seu semelhante em nenhuma ocasião.

Mas dentre todas as características, duas são as mais curiosas para serem observadas nos folgados crônicos. A primeira é que "folgados" não se consideram "folgados", coisa que decorre de um fato simples: a referência do que é, ou não, uma atitude "folgada" está no outro, algo que não existe para qualquer "folgado" ou "folgada". A segunda é que "folgados", normalmente, detestam gente "folgada", dado o incômodo alienígena que o outro provoca dentro do mundo solitário dos "folgados", gerando, neles, a insuportável consciência da própria "folga".

Claro que há ocasiões em que uma pessoa pode, inocentemente, incomodar seu semelhante. Mas estes casos são facilmente identificáveis, uma vez que o causador do transtorno, assim que percebe os efeitos do que está fazendo, corre para remediar a situação e, por vezes, pede desculpas, tentando até compensar o incomodado. E tudo estaria bem, não fosse o convívio diário com gente "folgada" que nos faz pensar que qualquer um que nos incomode pertença à mesma espécie.

Para acabar com um problemão desses, bastaria uma perguntinha tão simples do tipo: "Estou atrapalhando ou posso atrapalhar alguém assim?". Mas gente "folgada" não se pergunta nada...


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