A primeira universidade do mundo surgiu no século XIII, em Paris, mais precisamente no ano de 1215. A criação da Universidade de Paris transformou em realidade o conceito platônico de espírito que pregava o estudo, com ampla liberdade, de tudo relacionado ao universo, fosse a política, o corpo humano ou as escrituras sagradas. Depois dela, surgiram outras com a mesma orientação: a Universidade de Bolonha na Itália, a Universidade de Oxford na Inglaterra, a Universidade de Colônia na Alemanha e tantas mais espalhadas pelo Antigo Continente.
À época, as grandes áreas do conhecimento eram o direito, a medicina e a teologia. Entretanto, antes de seguir para qualquer uma dessas escolas, os estudantes passavam por uma espécie de ciclo básico que incluía filosofia, ciências, letras, matemática, astronomia, música e artes. Só então, depois de aprovados nessas disciplinas e bacharelados em Artes, podiam seguir seus estudos superiores para obter, após um total de 14 anos, o título de "Doutor".
A Universidade de São Paulo, criada há 76 anos, foi fundada com o mesmo espírito das universidades européias, agregando antigas escolas da capital paulista como a Faculdade de Direito (1827), a Escola Politécnica (1893), a Faculdade de Farmácia e Odontologia (1899), a Faculdade de Medicina Veterinária (1911), a Faculdade de Medicina (1912), o Instituto de Educação (1933), além da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1901) e a Esalq de Piracicaba. Criou-se, então, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que, de forma interdisciplinar, congregaria todas as grandes áreas do conhecimento. Foi necessário buscar professores qualificados na europa para compô-la. Nela, os estudantes cumpriam, também, uma espécie o "ciclo básico" — já não tão longo como na Idade Média.
Atualmente, um estudante de engenharia, por exemplo, só frequenta a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais (FFLCH), se tiver algum interesse particular por algum assunto ali tratado. Com o passar do tempo, os institutos ganharam maior autonomia e acabaram por eliminar uma série de disciplinas importantes para uma formação integral dos profissionais, como a Sociologia, por exemplo. Neste contexto, parece lógico concluir que as disciplinas eliminadas ou não eram importantes, ou eram menos prioritárias do que outras de caráter mais técnico. Daí vem a pergunta: o favorecimento de um ambiente que propicie a alienação formal de elementos culturais, humanos e sociais, pode formar melhores profissionais? E o maior problema é que muitas outras universidades pelo Brasil, públicas e privadas, seguem exatamente este mesmo molde.
Parece que aquela história de que "o espírito precisa estar aberto a tudo o que existe, e não apenas uma parte dele", está mais platônica do que nunca.
Fonte das informações históricas: Manual do Calouro (2010) da Universidade de São Paulo.
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