Talvez não haja ambiente tão propício para se pôr a ética pessoal à prova quanto no trânsito de uma cidade grande. Não bastasse motoristas péssimos em vários sentidos, guiando carros, ônibus e caminhões, há ainda um batalhão de motociclistas sem a menor noção de respeito ou segurança. E, como não poderia deixar de ser, os órgãos públicos que, supostamente, deveriam colocar ordem no pandemônio, por vezes são flagrados contribuindo com a confusão. São Paulo, mais uma vez, é um exemplo patente do problema.
Antes de mais nada, justiça seja feita: o desafio do trânsito em São Paulo tem a dimensão da cidade e é óbvio que as soluções nunca serão triviais em um lugar deste tamanho. Dada a interdependência de um trânsito saturado, poucos estúpidos já é o suficiente para desencadear o "inferno de Dante" nas ruas e avenidas paulistanas. Aliás, novamente, é bom que se ressalte, a maioria dos motoristas paulistanos são civilizados, até mais do que a média nacional. Se não fosse dessa forma, tal como no caso da ética na administração pública, o trânsito da cidade já teria, há tempos, arruinado-se de vez.
E talvez este seja um dos motivos que leva parte dos motociclistas, por exemplo, a fazerem o que bem entendem no trânsito da cidade. Não respeitam sinais de trânsito, limites de velocidade, motoristas, pedestres ou, sequer, outros motociclistas. Daria uma excelente tese de doutorado estudar o que faz alguém acreditar que, só porque guia uma moto, tem o direito de andar na contra-mão, subir nas calçadas, passar em sinais fechados, cometer infrações ocultando a identificação do veículo com as mãos e correr, perigosamente, nos corredores formados entre as filas de automóveis. Talvez o problema atingisse quase que exclusivamente os infratores se houvesse fiscalização e punição adequadas, mas, como não há, o problema acaba por se generalizar, levando os demais personagens do trânsito caótico a desumanizar todos os motociclistas. E esta animosidade crescente por todos os lados não parece ser bom para ninguém.
Enquanto isso, em uma dessas manhãs pós-temporal, homens da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) fechavam um cruzamento por causa de um semáforo queimado. Tão preocupados estavam com a segurança do trânsito que sequer perceberam um de seus veículos, uma caminhonete, estacionada bem na esquina, bloqueando a visão do motorista que desejava entrar na avenida principal. Simultaneamente, outro de seus veículos, no mesmo cruzamento, dava sinal de farol, insistentemente, para o motorista a frente que se demorava a entrar na via por não conseguir enxergar direito o fluxo que vinha em sua direção.
E, assim, tenta caminhar a humanidade...
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