sábado, 20 de março de 2010

Amor não tem preço!


John Bowlby (1907-1990) foi um psicanalista britânico estudioso do desenvolvimento infantil e precursor da teoria do apego. Seus trabalhos, com base etológica, contribuíram para uma melhor compreensão dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento do comportamento de apego entre os seres humanos. Analisando uma série de experimentos realizados com primatas (não-humanos), Bowlby conclui que a teoria mais aceita à sua época, a teoria do impulso secundário — segundo a qual o desejo de estar com outros membros resultava da vontade de ter as necessidades essenciais, como o alimento, providas por eles — não se sustentava diante das constatações experimentais (Bowlby, 1984).

Um dos mais contundentes resultados, vieram das experiências de Harry Harlow realizadas com macacos rhesus que, privados da presença da mãe durante as primeiras semanas após o nascimento, apegavam-se a um modelo cilíndrico envolto em tecido, mesmo sendo alimentados por outro modelo, similar, fabricado em arame. Ou seja, apesar da alimentação favorecer a aproximação, não era suficiente para fazer com que os filhotes se "apegassem" ao modelo de arame, passando quase todo o período com sua "mãe" de pano. Verificou-se, também, que mesmo sob ameaça (algumas vezes, jatos de ar comprimido, bastante desagradáveis aos macaquinhos, eram liberados no modelo de pano), os filhotes se agarravam ainda mais ao "modelo agressor", buscando proteção. Posteriormente, na fase adulta, todos os exemplares submetidos às experiências apresentaram dificuldade de socialização com outros macacos, variando em intensidade conforme a duração do isolamento, chegando, inclusive, a efeitos irreversíveis em períodos mais longos.

O comportamento de bebês humanos, obviamente, conta com ainda maior complexidade, o que dificulta sobremaneira a compreensão clara dos processos que desencadeiam o comportamento de apego. O que se sabe, entretanto, é que o apego na fase inicial da vida de uma criança apresenta implicações benéficas para seu desenvolvimento. Alguns trabalhos científicos indicam que bebês cuidados por mães (biológica ou adotiva) mais amorosas, tendem a desenvolver maior segurança emocional e mais facilidade nas interações sociais da criança no futuro (Bussab, 2005). Dada à elevada influência das relações sociais no desenvolvimento dos seres humanos, tais efeitos podem se amainar com o passar dos anos mas, ainda assim, podem gerar consequências para toda a vida do indivíduo.

E para quem pensou que aquela história de "amor não ter preço" era só senso comum, melhor rever seus conceitos...


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