quarta-feira, 17 de março de 2010

Desconstruir-se


A morte, em si, não é de toda mal. Apesar de termos nos acostumado a compreendê-la como o final de tudo, além do qual há uma incógnita indecifrável, a morte pode ser, simplesmente, o fim de uma etapa ou fase, absolutamente necessário para um recomeço.

Se a noite não morresse, o dia não nasceria. Se as semanas, os meses e os anos não terminassem, estaríamos estagnados no tempo, condenados a viver com os mesmos erros pela eternidade. Quando as doenças não se findam, a saúde não pode ser restabelecida. Sem as mortes, os renasceres seriam impossíveis. A morte é, portanto, apenas um estágio necessário ao perfeito funcionamento do complexo ciclo da existência, em todas as suas facetas.

Talvez por isso, ao se conscientizar do próprio erro, há quem deseje morrer. Este desejo não se refere, necessariamente, ao morrer fisiológico, mas ao morrer daquilo, dentro de si, que produziu o erro. Quem não deseja ver mortos os causadores dos próprios erros, simplesmente não deve ter-se dado conta de que errou.

O problema é que, ao matar componentes do próprio ego, suicidamo-nos. Obviamente que não no mesmo sentido tratado por Durkheim em sua obra, mas, talvez, de forma tão dramática quanto. Suicidamo-nos porque matamos alguém que tínhamos por nós mesmos e, assim, acabamos por nos desconstruir pouco a pouco. E esta desconstrução, apesar de necessária, é frequentemente dolorosa.

Mas assim como a figura da fênix, renascemos das próprias cinzas e recriamos um novo ser. Até que erramos de novo, recomeçando todo o processo...

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