segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Grande Guerra Marítima


Cerca de quarenta anos depois da Segunda Grande Guerra Mundial, enquanto o mundo se encaminhava lentamente de volta a seu estado de civilidade, a Comissão Internacional da Baleia (CIB ou "The International Whaling Comision", IWC) decretava uma moratória de caça aos cetáceos para fins comerciais que se estenderia por pelo menos os 25 anos seguintes. Como o CIB nunca teve recursos para fiscalizar o cumprimento da determinação, várias organizações não-governamentais de proteção ao meio-ambiente que já faziam esse tipo de trabalho, entre elas o Greenpeace e o Sea Shepherd, passaram unir esforços e recursos disponíveis para, além de divulgar as caças ilegais ocorridas à revelia da comissão, impedir fisicamente as empreitadas dos navios baleeiros. Desde então, uma outra batalha, desta vez civil, vem sendo travada nos oceanos.

Uma brecha na moratória, permitiu que alguns países mantivessem seus níveis de caça alegando propósitos científicos. Segundo o Sea Shepherd, Japão, Noruega e Islândia já mataram mais de 25 mil baleias desde 1986, quando a suspensão da caça foi declarada. Uma das razões para a moratória é que, com ciclos de vida relativamente longos, muitas das espécies já foram extintas e outras tantas correm sério risco de extinção como a Baleia-azul e a baleia-minke. Ainda de acordo com a organização, também nas Ilhas Feroe, uma nação constituinte do Reino da Dinamarca, são promovidos diversos massacres desses animais como o que, recentemente (19/07/2010), ceifou a vida de 236 baleias-piloto, espécie considerada estritamente protegida pela Convenção Europeia de Proteção à Vida Selvagem.

Com o adiamento da decisão sobre a moratória no CIB, o assunto ainda deve se arrastar por mais algum tempo e a matança "para-fins-científicos" deve continuar somando, oficialmente, cerca de 900 animais pelo Japão, algo em torno de 450 pela Noruega e mais algumas centenas pela Islândia. Enquanto isso, os defensores das baleias se esforçam para desmascarar as intenções por detrás das posições dos Estados. Segundo o Greenpeace, por exemplo, dois de seus ativistas japoneses, Toru Suzuki e Junichi Sato, podem ser presos, sem o benefício da suspensão de pena, sob a acusação de terem entrado ilegalmente em uma empresa transportadora e roubado uma caixa com carne de baleia. A real motivação do processo, entretanto, pode ter sido um pouco diferente, já que ambos os ativistas expuseram, algum tempo antes, um esquema de corrupção envolvendo membros do governo japonês e a empresa que detém a frota baleeira.

No início deste ano, o navio Ady Gil da Sea Shepherd Conservation Society, com seis tripulantes, foi abalroado e afundado pelo baleeiro japonês Shonan Maru 2, durante uma ação dos ativistas para impedir as operações de caça do baleeiro. O comandante do barco atingido, Peter Bethune, 45, foi preso e levado para o Japão onde foi julgado e condenado à dois anos de prisão, convertidos em condicional, por ter agredido e obstruído a missão baleeira japonesa — curiosamente, nenhuma palavra oficial foi dita a respeito do capitão do Shonan Maru 2 que investiu contra uma embarcação menor, afundando-a e colocando em risco a vida de seis pessoas.

O que não deixa de ser irônico é o conflito aberto entre uma ONG estadunidense e o Estado japonês, sessenta e cinco anos depois do estrago causado pela Segunda Grande Guerra, com a diferença de que, agora, a noção de civilidade parece estar ao lado dos ocidentais...

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