Um casal planeja uma viagem com grande antecedência. Conversam, cada qual com seu respectivo grupo de amigos, buscando por sugestões de lugares agradáveis e interessantes, enquanto acertam todos os detalhes nas respectivas ocupações para que ambos os períodos de férias coincidam. Antecipam alguns compromissos, adiam outros e, faltando uns poucos meses, já com a garantia de que teriam a possibilidade de desfrutar daqueles momentos juntos, decidem discutir sobre o melhor percurso a fazer na viagem. Ao conversarem, no entanto, descobrem que um deseja esquiar nas montanhas e o outro, tomar banho de sol e mar em uma ilha paradisíaca. Eis, então, o nascimento de um problema.
É bastante interessante notar a dinâmica com que os problemas aparecem e desaparecem no decorrer de nossas vidas. Exceção feita a restrições de ordem prática, como falta de recursos ou limitações físicas, boa parte das problematizações são, em geral, volúveis e resultam de meros conflitos de opinião. Suponha, no caso citado, ainda com a questão sobre o destino da viagem em plena efervescência, que ambos recebam a notícia, cada um do seu respectivo trabalho, que o período de férias planejado deverá ser frustrado devido a importantes eventos que tornarão suas presenças imprescindíveis, exatamente naquele período. Pronto! Lá se foi aquele problema de para onde ir viajar...
Qualquer pessoa, a princípio, age da forma que entende ser a melhor. Obviamente, como o modelo de realidade é absolutamente peculiar ao indivíduo, a "melhor forma" de um nem sempre coincide com a dos outros e é justamente nesta brecha que os "problemas" aparecem. Mas ao contrário do que possa parecer, a ocorrência dessas tensões entre opiniões diversas é saudável, pois abre espaço para o diálogo — fundamental para convivência em sociedade. É nesse compartilhar de visões sobre as "melhores formas" que se apura a realidade comum a todos. Logo, pode-se dizer que a inexistência de problemas não é, necessariamente, algo, assim, tão bom.
Um excelente exemplo disso é quando os "problemas" deixam de existir devido ao privilégio de um ou outro ponto de vista, causando a extinção do diálogo. Em um rígido sistema de doutrinas, por exemplo, não há qualquer problema referente ao que se pode, ou não, fazer. Quando alguém é dono da razão, também não. Dessa forma, junto com o "problema" desaparece, também, toda e qualquer possibilidade de aperfeiçoamento, tanto pessoal quanto coletivo. Este, sim, é um problema de fato.
E talvez não fosse só papo de auto-ajuda aquela história de todo problema ser uma oportunidade de melhoria...
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