Utopia. Segundo Houaiss (2001), o termo se refere a "qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade" ou, por extensão de sentido, "projeto de natureza irrealizável; ideia generosa, porém impraticável; quimera, fantasia". A palavra já foi um neologismo no início do século XVI, quando Sir Thomas More (1480-1535) — hoje santo canonizado pela Igreja Católica — escreveu seu livro Utopia (1516), no qual descrevia uma ilha imaginária que abrigava uma sociedade perfeita. A etimologia do termo indica sua formação pela união de dois radicais gregos: ou (do advérbio de negação) e tópos (lugar), significando "em lugar nenhum".
Posteriormente, outros pensadores, como o filósofo alemão Ernst Bloch (1885-1977) e o sociólogo húngaro Karl Mannheim (1893-1947), desenvolveram ainda mais o significado do termo, atribuindo-lhe a um projeto de organização social alternativa capaz de apontar potencialidades concretas e realizáveis que poderiam contribuir para a transformação da ordem política instituída (Houaiss, 2001). Com o passar do tempo, o senso comum acabou adotando o termo como sinônimo de qualquer coisa ideal, inatingível, impossível de ser concretizada e, talvez por isso, as utopias começaram a ser consideradas devaneios inúteis em um mundo prático como o atual.
As utopias, entretanto, são absolutamente fundamentais para o desenvolvimento humano — como rapidamente mencionado no texto "O real e o utópico". São as utopias que fornecem a direção, o norte, a orientação para onde se deve seguir. Sem as utopias, o esforço de melhoria perde o sentido porque se corre o risco de assumir "o melhor" como sendo o estado final. Não fosse a utopia do determinismo científico, talvez os esforços na busca por mais explicações sobre os infinitos fenômenos já teria esmorecido. Por que razão, então, tanta relutância em se discutir utopias sobre regimes políticos, relações sociais, sistemas econômicos, etc.?
Parafraseando um general romano (106-48 aC.) que repetia para seus amedrontados marinheiros "Navigare necesse; vivere non est necesse." ou, em português, "Navegar é preciso; viver não é preciso." (Bachinski, C. Sic est in proverbio - Assim diz o provérbio. Juruá Editora, 2006. p. 93), poder-se-ia, com relação às utopias, dizer: "Sonhar é preciso; ver realizar não é preciso."...
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