segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Inoxidável?


Um aço inoxidável é, basicamente, o mesmo que um aço comum. A diferença fica por conta do maior teor de um dado elemento de liga, geralmente o cromo, que lhe confere a peculiar característica de não se oxidar. Mas, desde as saudosas aulas de química do colegial, sabe-se que o cromo é mais reativo que o ferro, ou seja, oxida-se mais facilmente em presença de oxigênio. O aparente paradoxo — o de usar um elemento que se oxida mais facilmente que outro para proteger a liga, justamente, da oxidação — pode ser explicado pela físico-química, área da ciência que estuda as propriedades físicas e químicas da matéria, bem como suas reações.

A reatividade do ferro, ou do cromo, com o oxigênio pode ser calculada segundo modelos termodinâmicos, resultando em um valor que mensura a energia envolvida na formação dos óxidos do metal em determinadas condições de pressão e temperatura. Por convenção, diz-se que quanto mais negativa for essa energia, mais reativo é o metal que compõe o óxido, maior é o potencial para a ocorrência da reação e mais estável é o produto final. A reação, entretanto, não necessariamente ocorre de forma espontânea, dependendo de outros fatores como energia de ativação e cinética (velocidade) favorável. E é exatamente na cinética de reação que está o segredo do aço inoxidável.

Sendo o cromo mais reativo, de fato, acaba por se oxidar preferencialmente ao ferro. No entanto, o óxido de cromo apresenta certas características — como transparência, flexibilidade e impermeabilidade — que propiciam a manutenção de uma película protetora capaz de impedir o prosseguimento da reação para além da superfície. Em outras palavras, a estável película de óxido formada na superfície cessa o fluxo de oxigênio, essencial à oxidação, interrompendo a cinética da reação. Não fosse o cromo, o produto final seria composto, predominantemente, por óxido de ferro que, por ser poroso, não possui a mesma capacidade de manter o oxigênio do ambiente longe do metal restante e, consequentemente, de interromper a oxidação.

Como se pode perceber, também na metalurgia, ir a favor da natureza — como, no caso, lançar mão de um metal que se oxida mais facilmente — pode dar ótimos resultados.


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