O casal passeava por entre as lojas, observando as vitrines, quando se deparam com um desses galãs de Hollywood estampado em um enorme anúncio publicitário. A garota, admirada, faz um comentário provocativo sobre os muitos atributos estéticos do modelo, ao que o rapaz, após olhar a foto, sorri e responde ser, ele próprio, muito melhor do que o outro do cartaz. A garota, já esboçando um princípio de gargalhada, arrisca perguntar em que se baseava aquela inusitada afirmação, questionamento que seu companheiro lhe responde de pronto: "Simplesmente, porque eu sou real!".
Idealizar pessoas, coisas ou situações parece ser uma tendência natural no ser humano e, apesar de não se restringir ao mundo publicitário, é nas campanhas comerciais que essa inclinação melhor se evidencia — os profissionais de publicidade sabem usá-la como ninguém. Ao anunciar um produto ou serviço qualquer, relacionam-no sempre a alguém, algo ou alguma situação "perfeita" que, na maioria das vezes, nunca existiu nem nunca existirá.
Não é na concepção do ideal, entretanto, que reside o problema da idealização — afinal, nada mais razoável do que aproveitar a única chance de uma divulgação para mostrar o melhor dos cenários possíveis —, mas na obsessão pela "realidade" do anúncio em detrimento de qualquer outra que se concretize na própria vida. Essa obsessão pelo perfeito, presente nas mais diversas situações da vida de um ser humano, é o que gera uma espécie de frustração permanente, seja no cumprimento de uma simples tarefa cotidiana, seja na busca ou manutenção de um relacionamento pessoal.
Talvez fosse o caso de se eliminar da perspectiva, simplesmente, tudo o que é considerado ideal ou utópico, mas acabar-se-ia perdendo, também, a motivação fundamental para seguir melhorando sempre naquela direção. Outra alternativa, embora aparentemente mais simples e um tanto difícil de se aplicar na prática, é a tolerância com relação às próprias limitações. O indivíduo tolerante raramente se frustra ao ter sua realidade confrontada com alguma idealização. A tolerância o faz reconhecer as próprias limitações, reconduzindo-o à realidade; faz com que — ao contrário da resignação — o indivíduo compreenda o estado das coisas, por como passageiro e mutável; mantém, também, o ideal como referência de forma a possibilitar um esforço de melhoria contínua.
Se aquele rapaz pensou em tudo isso, não se sabe, mas o fato é que, depois do episódio com o galã de Holywood, ele voltou a ser visto frequentando a academia...
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