Dizem alguns estudiosos que menos de 10% da comunicação se deve, efetivamente, às palavras utilizadas (Mesquita, R. M. Comunicação não-verbal: relevância na atuação profissional. In: Revista paulista de educação física. São Paulo: jul./dez. 1997. v. 11(2). p. 155-63.). Mais de 90% do que é comunicado em um diálogo, face-a-face, deve-se a outros fatores como postura, gestual, entonação de voz, etc., que, no geral, não são conscientemente controlados ao longo do processo. Assim, considerando que quase a totalidade da informação trocada entre os indivíduos, é passada por mecanismos alheios ao controle lógico-objetivo, não é necessário ser um especialista para inferir o gigantesco abismo de compreensão existente entre semelhantes. Aliás, a despeito do alto grau de dificuldade envolvido nas comunicações, pode-se dizer que é quase um milagre que as pessoas ainda consigam se entender pela fala ou pela escrita.
Além da questão envolvendo a transmissão de uma determinada ideia ou conceito à outra pessoa, há mais um grande obstáculo que é a tradução, em palavras, das próprias emoções, sentimentos e demais sensações abstratas, frequentemente essenciais à compreensão daquilo que se deseja comunicar — tarefa que requer habilidades humanas nada triviais. Todos esses fatores combinados explicam, se não todos, boa parte dos conflitos entre indivíduos, além das diversas incompreensões de autores, intelectuais, poetas, artistas, etc. Poder-se-ia asseverar — mesmo sendo demasiadamente audacioso fazê-lo sem embasamento científico — que se as consciências pudessem se comunicar diretamente, ou seja, se um interlocutor pudesse ser o outro, ainda que por um instante, as discussões e incompreensões, simplesmente, não existiriam.
Mas, talvez o pior problema em toda dinâmica comunicativa seja a retroalimentação da mensagem durante um diálogo. Quando alguém diz algo para outra pessoa, espera uma certa reação que, se ausente ou muito distinta da prevista, desorienta o emissor da mensagem. Um efeito similar pode ser verificado em um experimento em que a mãe, interagindo com seu bebê, subitamente para de responder aos estímulos da criança — como, por exemplo, ao manter uma face neutra, sem expressão, enquanto o bebê sorri para ela. Percebendo a não-correspondência de sua mensagem, o recém-nascido reage, às vezes de forma desesperada. E uma escala diferente, o mesmo ocorre entre adultos quando, por exemplo, alguém mais emotivo espera uma reação impulsiva, mas é surpreendido pelo silêncio do outro. Enquanto a compreensão do primeiro é de que suas exasperações não significaram nada, pode ser que para o segundo, o silêncio seja a prova cabal de que aquelas palavras tocaram fundo sua alma.
Quando o saudoso Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha, dizia: "Quem não se comunica, se trumbica!", todo mundo pensava que era só piada...
Fascinante! Recomendo a todos lerem o livro "Desvendando os Segredos da Linguagem Corporal" dos autores Allan e Barbara Pease. Que trata da compreensão, muitas vezes inconsciente, dos gestos corporais. Vale a pena lê-lo, como mostra a postagem.
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