sábado, 28 de agosto de 2010

Liberdade como utopia


Como qualquer outra criação humana, os sistemas político-econômicos nunca são perfeitos. Cada qual com suas peculiaridades, prós e contras, disputam, incansavelmente, a posição de melhor opção dentre todas as existentes. Em uma selva de concepções filosóficas, sobrevivem as ideologias mais fortes e que melhor se adaptam às "contingências ambientais" e, como em um excêntrico darwinismo ideológico, acabam, também, evoluindo gradativamente. E apesar de descendentes dos vários ideários ainda serem encontrados até hoje ao redor do mundo, o fato da lógica democrático-capitalista chegar à hegemonia na atual sociedade globalizada parece ser indiscutível.

Quase duas décadas após o final da Gerra Fria, ainda se discute os efeitos da polarização mundial entre os dois sistemas mais relevantes do mundo contemporâneo: o capitalismo e o socialismo. Ambos se destacaram dos demais, não por apresentar as soluções mais adequadas entre todas, mas por arregimentar a maior quantidade de pessoas em torno de seus próprios princípios, permitindo que se estabelecessem ao longo do período histórico. E a despeito da condição hegemônica do capitalismo, nenhum dos regimes saiu incólume dessa polarização; evoluíram. O capitalismo, hoje, possui várias facetas do socialismo, e vice-versa, distorcendo muitos dos próprios fundamentos primordiais — exemplo patente é a recente discussão sobre ampliação de benefícios sociais e auxílio estatal à saúde pública estadunidense, ou a adaptação da China socialista à nova ordem econômica mundial.

Sabe-se que um dos principais pontos de divergência, entretanto, repousa sobre o controle estatal da economia que, para os capitalistas, deve ser mínimo e, para os socialistas, máximo. Os primeiros alegam que o controle estatal excessivo tolhe a liberdade dos indivíduos, uma vez que restringe a diversidade de opções. Os segundos defendem que a falta de controle permite o privilégio de uns em detrimento de outros. Mas, considerando o número de países capitalistas existentes hoje em dia, pode-se dizer que a visão dos primeiros foi melhor aceita pelas pessoas, afinal, a liberdade é um direito fundamental do ser humano. O que pouca gente explica, no entanto, é que essa liberdade é utópica, simplesmente porque é condicionada ao capital. Se não acredita, tente se alimentar, morar ou transitar (especialmente nas excelentes e caríssimas vias pedagiadas do estado de São Paulo) sem ter dinheiro suficiente.

Não se assuste se constatar que, em um regime capitalista, sua liberdade é tão utópica quanto aquela sociedade sem classes de outros regimes...


Nenhum comentário:

Postar um comentário