E por falar em Páscoa, celebrações religiosas e demais manifestações de fé, citemos uma passagem do livro mais editado do mundo: a Bíblia Sagrada. Sendo cristã a absoluta maioria da população ocidental deste planeta, é bem provável que o livro do Gênesis não cause qualquer estranhamento:
"Então a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal." (Genesis 3:3-5)
O trecho se refere ao exato momento em que a serpente, ou o diabo, convence Eva a experimentar o fruto que Deus havia proibido tocar. O argumento do coisa-ruim era de que eles, Adão e Eva, não morreriam ao comer do fruto, mas, sim, adquiririam o conhecimento das coisas, igualando-se ao próprio Deus. O final da história todo mundo conhece: eles cedem às tentações, comem do fruto e são expulsos do paraíso pelo Criador. Obviamente que o objetivo não é catequizar ninguém com esta passagem do Antigo Testamento, senão ilustrar um drama humano interessantíssimo — aliás, só para constar, não seria nada absurdo supor que o Livro Santo se referisse exatamente a esses dramas, só que por meio de metáforas.
Imagine-se tomando seu café da tarde, tranquilamente, em um ensolarado dia de domingo, ignorando, completamente, um míssil disparado em sua direção. Qual seria seu nível de preocupação? Zero, lógico! Sua ignorância sobre o fato o manteria lá no paraíso. Agora, imagine-se tocando no fruto proibido da televisão e descobrindo o fato pelo telejornal. Pronto! Seus últimos momentos de vida se transformaram no próprio inferno.
Assim vive o ser humano, repetindo, eternamente, o drama de ser expulso do paraíso, toda vez que obtém o conhecimento e descobre-se equivocado quanto às suas expectativas. Despencar do céu ao inferno, entretanto, é humano e acaba por nos colocar em contato com a realidade mundana em que vivemos. Viver na ignorância, por outro lado, é não ter tocado no fruto proibido do conhecimento e não ter saído nunca do paraíso. Quem assistiu o primeiro filme da trilogia "Matrix", por exemplo, deve se lembrar do personagem Cypher dizendo aos agentes que a ignorância era uma bênção.
Sendo assim, aqueles que têm certeza absoluta das próprias convicções, vivem tranquilos nos seus próprios paraísos pela eternidade. Resta saber apenas se o aumento deste tipo de personalidade, ultimamente, é apenas fruto do acaso ou já o prenúncio do apocalipse...
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