Pode-se dizer que a revolução humana principia, de fato, quando os grunhidos comunicativos passam a se repetir e ter algum sentido atribuído, algo que só seria possível em um grupo vivendo em sociedade — afinal, não bastaria alguém grunhir com um sentido sem que outro estivesse próximo para entendê-lo. Lenta e paulatinamente, portanto, os indivíduos que exibiam maior habilidade para articular sons devem ter sido selecionados ao longo de uns poucos milhares de anos, até que algumas conversas primitivas se tornassem possíveis. Logo, a capacidade de trocar informações legava ao grupo a possibilidade de compartilhar conhecimentos e experiências que persistiriam por gerações. Mas ainda havia uma significativa barreira a transpor: a limitação da memória. As tradições orais, além de demandar exessivamente a memória de seus seguidores, estavam sujeitas, frequentemente, a más interpretações, distorções, fragmentação e demais problemas associados à "síndrome do telefone-sem-fio".
Eis que, então, alguns comerciantes fenícios, preocupados com o registro contábil de suas atividades, desenvolvem um conjunto de símbolos gráficos padronizados que permitia a qualquer pessoa — que obviamente conhecesse o padrão — ter acesso a informações precisas sobre as transações comerciais. Não só no oriente médio, mas, independentemente, em outras regiões do planeta, a escrita surgiu como uma das primeiras grandes revoluções da recém-nascida humanidade — note que as escritas mais antigas têm cerca de 6000 anos apenas. O conhecimento germinado na habilidade da fala, agora, florescia nas folhas de papiro, tabuletas de argila, cera, pedra e onde mais se pudesse registrar os conceitos formulados pela mente humana. A escrita passava a exercer, então, o valioso papel de "memória da humanidade".
Mas, ainda que o avanço tivesse sido enorme, o acesso às fontes de informação era muito difícil. Um grego que quisesse estudar uma relíquia hieróglifa egípcia, por exemplo, teria de atravessar todo o Mediterrâneo para vê-la e, caso quisesse retornar com as informações para casa, teria que decorá-las ipsis litteris, como diriam os romanos. Esta dificuldade no trânsito das informações, continuava a demandar muito da memória humana, fazendo com que os métodos de aprendizagem privilegiassem a memorização literal de conteúdo. Aliás, os primeiros registros de truques mnemônicos usados até os dias de hoje datam do século V a.C. e são atribuídos ao poeta grego Simônides de Ceos (Pozo, J. I. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Artmed, 2002.). Logo, a semelhança com boa parte das metodologias modernas de ensino, como pode ser percebido, não parece ser mera coincidência.
Assim, já no ano 0 cristão, mesmo com uma genética pré-histórica, o nível de desenvolvimento do ser "social" humano já não podia mais ser comparado ao de qualquer outro animal na Terra. Mas, além da fala e da escrita, algo mais poderia influenciar a evolução da humanidade de maneira tão significativa?
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