Pouco a pouco, com a popularização da escrita, foi surgindo a necessidade de se reproduzir os textos de uma forma mais eficiente e barata. Assim, é inventada a imprensa no seio da revolução burguesa, alterando, definitivamente, a forma da humanidade se relacionar com o conhecimento produzido. O intercâmbio de informações em nível mundial, ainda que restrito a uma pequena elite, passava de utopia a realidade, aumentando, exponencialmente, as conquistas tecnológicas dos H. sapiens. A isso se seguiu o desenvolvimento de todos os dispositivos de comunicação disponíveis até os dias de hoje, como o rádio, o telefone, a televisão, etc. E a cultura humana, claro, não poderia sair icólume de tudo isso e se alterou, mais uma vez, profunda e irreversivelmente. Surgia, então, a era da informação.
Tente não aprender nada novo por um único dia e perceberá como isto é difícil na atualidade. A incessante torrente de informações lhe força a conhecer as regras de uma nova promoção — mesmo que para, apenas, decidir não participar —, as implicações do tempo na Groenlândia para o resto do globo, as potencialidades do processamento quântico na determinação de variáveis multidimensionais ou mesmo as "provas" de seu candidato ter falado, ou não, a verdade durante uma sabatina política. O acesso à informação, que antes limitava o compartilhar do conhecimento, acabou por se tornar um problema moderno ao saturar, constantemente, a aprendizagem humana.
Como bem lembra Pozo, nem São Tomás de Aquino, com sua prodigiosa memória (Boorstin apud Pozo, 2002), capaz de reproduzir as aulas de seus professores com tamanha precisão, poderia, nas últimas décadas, memorizar uma fração significativa de tudo a que fomos expostos. Logo, a capacidade de retenção e reprodução foi deixando de contar tanto e deu lugar à de selecionar e interrelacionar conteúdos para produzir estratégias de ação efetivas, obtendo alguma previsão e controle no ambiente dinâmico — talvez caótico — que criamos e no qual escolhemos viver. Obviamente, não se está querendo dizer com isso que o conteúdo não seja essencial na aprendizagem — na hora da cirurgia, por exemplo, um médico não pode consultar um manual de anatomia para saber se está cortando o tecido correto — mas que, apenas ele, já há algum tempo, não é mais suficiente para suprir as demandas da recente conjuntura.
E quando a poeira da última revolução parecia ter-se assentado, eis que surge o furacão da internet para colocar tudo de pernas para o ar novamente. Nem as sagradas instituições jornalísticas mundiais restaram de pé e foram forçadas a rever completamente seus conceitos para conseguirem sobreviver. A relação com o conhecimento, mais uma vez, foi fundamentalmente alterada e, com ela, toda a humanidade e sua cultura. Basta verificar que, hoje — ainda que para uma elite restrita, como durante a invenção da imprensa —, o que renomadas instituições dizem está tão disponível quanto as opiniões pessoais de qualquer cidadão anônimo em algum lugar do planeta. Cada dia mais, obras raras e inacessíveis vêm sendo disponibilizadas para qualquer pessoa conectada à grande rede mundial de computadores e o mesmo se aplica à produção científica mundial.
Se 2010 anos atrás já não era possível comparar a espécie humana com qualquer outro ser vivente da Terra, e agora, então?
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