O concurso 1169 da Mega-sena sorteou, no último sábado, a seguinte série de números: 01, 11, 14, 23, 42 e 48. Se, para o próximo concurso, propusessem-lhe uma das seguintes combinações para concorrer, gratuitamente, qual seria sua escolha: 01, 02, 03, 04, 05 e 06 ou 01, 14, 25, 32, 37 e 40?
Caso não seja afeito às teorias da probabilidade, provavelmente, sua escolha seria pela segunda opção. Isto porque, à primeira vista, o resultado de padrão sequenciado (01, 02, 03, etc.) seria praticamente impossível ocorrer. Alguns, entretanto, conhecendo um pouco de cálculo probabilístico, poderiam até escolher, deliberadamente, a primeira sequência — intentando pegar este autor no contrapé — já que ambas as alternativas, pelo atual método de sorteio, são absolutamente equiprováveis.
Esta sensação de assimetria probabilística é dada por um mecanismo de aprendizagem muito primitivo, comum a outros seres vivos, que foi moldado pela seleção natural ao longo de centenas de milhares de anos, possibilitando a identificação de regularidades no ambiente — capacidade bastante útil à sobrevivência das espécies. Alguns autores denominam esta aprendizagem de implícita (Reber apud Pozo, 2005), segundo a qual o reconhecimento de padrões, no caso dos humanos, ocorre sem a participação da consciência.
E para quem cobiçava o contrapé do autor, segue o contragolpe deste: a segunda sequência de números também guarda um padrão, bastando, para obtê-los, somar o número anterior ao correspondente da sequência decrescente de números primos iniciada por 13. Ou seja:
01+13=14
14+11=25
25+07=32
32+05=37
37+03=40
14+11=25
25+07=32
32+05=37
37+03=40
Pronto! Sabendo disto, qualquer pessoa que conheça os números primos (1, 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, etc.) e saiba somar, conseguirá reconstruir a mesma sequência sem precisar decorá-la. Este tipo de aprendizagem requer a intervenção de pelo menos parte da consciência, sendo chamada de explícita. Este mecanismo, mais moderno, foi constituído "sobre" o anterior e é responsável pela assimilação de conhecimentos complexos por meio do direcionamento da atenção — ou, mais precisamente, da cognição.
O detalhe interessante é que, mesmo sendo mais refinada, a aprendizagem explícita não pode ser dissociada de sua base implícita. E, por sua vez, os mecanismos mais primitivos, que funcionam baseados predominantemente em associações, não podem, sozinhos, explicar toda a complexidade de conceitos adquiridos por um ser humano.
E se não resolve o problema daquela sensação de que coisas iguais não são tão "iguais" assim, pelo menos é uma boa explicação...
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