Razão: Substantivo masculino (sic). Faculdade espiritual própria do homem, por meio da qual ele pode conhecer, julgar, estabelecer, discorrer, etc. (Dicionário da Língua Portuguesa, Editora LEP, 1959.)
Razão: Verbete. Faculdade intelectual que permite ao homem formular conceitos ou princípios universais, através das ideias, do raciocínio e do juízo. (Enciclopédia Barsa Britânica, 1965.)
Razão: Substantivo feminino. Faculdade que tem o ser humano de avaliar, julgar, ponderar ideias universais; raciocínio, juízo. (Dicionário Folha-Aurélio Básico da Língua Portuguesa, 1995.)
Razão: Substantivo feminino. Faculdade de raciocinar, de aprender, de compreender, de ponderar, de julgar; a inteligência. (Dicionário Houaiss Eletrônico da Língua Portuguesa, 2001.)
A razão tem sido objeto de estudo — por ela própria — já desde muito cedo, bem antes dos filósofos gregos começarem a organizar o conhecimento de forma sistemática. De característica da alma até uma mera capacidade funcional do cérebro humano, a definição do que seria a razão tem desafiado os estudiosos ao longo de toda a história. Mesmo em períodos mais curtos de tempo, como no último meio século, já é possível verificar alterações significativas dessa definição, conforme ilustrado logo no início do texto.
Mas analisando as várias conceituações, pode-se depreender algo em comum a todas: a razão se refere, especialmente, às operações lógicas executadas pelo cérebro humano. Nestes termos, entretanto, não seria absurdo compreender a razão como algo absolutamente objetivo, tal como operações lógico-matemáticas processadas por um microcomputador. Afinal, que tipo de subjetividade poderia existir em se concluir que, se A é igual a B e B é igual a C, logo, A é igual a C?
Talvez pela ausência dessa subjetividade, que lhe confere um impressionante poder de transferência de conceitos precisos entre indivíduos, a razão acabou por se transformar em um objeto de fascinação para o ser humano, a ponto de cegá-lo para o que não lhe parece racional aos olhos. Decerto, sem essa habilidade estaríamos fadados ao inatismo, aos instintos, às meras reações — em lugar de previsões — e, muito provavelmente, também à ausência da consciência que nos permite questionar, diferenciando-nos das demais espécies neste planeta. Entretanto, faz-se necessária humildade suficiente para compreender que o mundo, irracional ou não, continuaria existindo mesmo que os humanos subitamente desaparecêssemos e levássemos conosco toda nossa razão.
Foi René Descartes (1596-1650) quem, no princípio do século XVII, colocou a critério da razão a existência ou não das coisas, instituindo a dúvida como metodologia. Algo só poderia existir se sua existência pudesse ser provada; "Ego cogito ergo sum" ("Penso, logo existo"), concluía ele. Cerca de cem anos mais tarde, na segunda metade do século XVIII, o alemão Immanuel Kant (1724-1804) já criticava a razão pura, associando o empirismo da escola inglesa de Hume e Locke ao método dedutivo de Descartes e Leibniz. Era o princípio de uma compreensão mais profunda da razão que, por ser humana, não poderia estar totalmente isenta de subjetividade.
E este é só o princípio da história...
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