quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ervilhas férteis


E, falando em genética, por que não mencionar Charles Robert Darwin (1809-1882)? Sim, o pai do evolucionismo e guru de Dawkins que, não por acaso, tem sido citado com uma razoável frequência por aqui ("Medos", "Etologia" e "Medicina Evolutiva - Parte I"). Seu livro, A Origem das Espécies, publicado em 1859, revolucionou toda a biologia e inúmeras outras áreas de estudo relacionadas. Mas, como toda obra revolucionária, foi severamente criticada pela comunidade científica da época. Entre as várias contestações de suas ideias, uma se referia à "força" geradora de mudanças nos seres ao longo da evolução, algo que, para alguns, sugeria uma indevida referência ao criacionismo. Não havia, naquele tempo, o conceito de genes como compreendido hoje e, de fato, as causas da evolução natural dos seres vivos, proposta por Darwin, andavam ainda um tanto obscuras.

Alguns anos mais tarde, os trabalhos de um abade da Ordem de Santo Agostinho, Gregor Johann Mendel (1822-1884), iriam estabelecer as bases de toda a Genética moderna e sustentar, cientificamente, as ideias de Darwin. Nascido na região da Silésia-Morávia (hoje parte da República Tcheca), na então chamada Heinzendorf (província que, na época, pertencia à Áustria), Mendel, desde cedo, já demonstrava interesse pelas plantas, estudando-as ainda na fazenda de seu pai. Após entrar no Mosteiro Agostiniano de São Tomás em Brünn (atual Brno, também na República Tcheca), foi enviado à Universidade de Viena pelo abade superior para que pudesse desenvolver seu interesse pela ciência. Anos mais tarde, retornando à província, passou a dividir seu tempo entre as aulas que ministrava na escola técnica local e suas atividades no mosteiro, entre elas, o cultivo e o estudo de ervilhas.

Mendel se interessava não apenas por botânica, mas também por zoologia, meteorologia e outras áreas do conhecimento humano. Em 1862, fundou, em conjunto com alguns colegas do monastério, a Sociedade de Ciências Naturais. Dois anos depois, em 1865, durante os encontros científicos, apresentou seu trabalho sobre hereditariedade, propondo as leis que deveriam reger a transmissão dos caracteres hereditários. Posteriormente, tomado pelas demandas administrativas do mosteiro, acabou se afastando de suas atividades científicas até que, em 1884, faleceu na mais completa obscuridade.

Ironicamente, sua obra também teve de aguardar algumas décadas até ser reconhecida, independentemente, por três outros botânicos: K. Correns (Alemanha), E. Tchermak (Áustria) e H. De Vries (Holanda). A partir de então, as Leis de Mendel ganharam vultosa importância e passaram a ser ensinadas nas escolas de quase todo o mundo. De lá para cá, a genética evoluiu muito e a dominância e recessividade mendeliana — conceitos, aliás, anteriores ao próprio Mendel — já não são mais suficientes para explicar a infinidade de fenômenos genéticos observáveis hoje, entretanto, não há como negar que sua contribuição foi fundamental para que boa parte da ciência, senão toda, chegasse no nível atual.

O bom abade, humilde e pacientemente, plantou ao longo de toda sua vida várias sementes nos campos das ciências que, de tão férteis, deram origem a verdadeiras florestas, até hoje fecundas, de raro e genuíno conhecimento científico.

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