terça-feira, 20 de abril de 2010

A Emoção e a Razão — Parte II


“O coração tem razões que a razão desconhece.” (Blaise Pascal, filósofo francês do século XVII)

Desde então, muitas pesquisas têm sido feitas com o objetivo de se compreender melhor o funcionamento dos processos mentais e as respectivas correlações com áreas específicas do cérebro. A razão e a emoção que, segundo Descartes, eram regidas pelo corpo e pela alma, respectiva e separadamente, passaram a ser compreendidas de uma forma menos dual pela ciência. Resultados recentes indicam que “a emoção é um fator que influencia, modula e pode ser até mesmo preponderante em sistemas classicamente cognitivos como na memória e aprendizado” (CARVALHO, D. Emoção. In: MOREIRA, R. G. et a. Livro do VI curso de Inverno Tópicos em Fisiologia Comparativa. São Paulo: IB-USP, 2009. p. 382-390.).

Até as decisões aparentemente racionais, para a frustração dos cartesianos mais exaltados, parecem ser profundamente influenciadas pelas emoções. A neurociência, atualmente, parte do pressuposto que as decisões não são meras escolhas entre alternativas, mas, sim, um processo dependente da experiência individual daquele que decide, associada à sua capacidade de identificar os principais elementos que devem guiar sua escolha face à situação. Dependem, portanto, não apenas do contexto ambiental como também dos estados internos do organismo, tanto em humanos como em outros animais (CORRÊA, C. M. C. Tomada de decisões. In: MOREIRA, R. G. et a. Livro do VI curso de Inverno Tópicos em Fisiologia Comparativa. São Paulo: IB-USP, 2009. p. 374-381.).

Damásio, em sua obra, daria razão a Pascal, cuja filosofia poética foi citada na epígrafe, ao concluir que não seria adequado tratar razão e emoção como áreas distintas, uma vez que a razão acaba por resultar da avaliação emocional de um determinado ato (DAMÁSIO, A. R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.). Como será visto em outra oportunidade, há uma série de outros casos clínicos — além do de Phineas P. Gage — e diversas observações experimentais que vão ao encontro desse argumento.

Felizmente, há, ainda, muito mais a se descobrir e os poetas podem ficar tranquilos...


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