É inegável o fato do estado de São Paulo possuir as dimensões de um país. Como consequência natural, os investimentos por aqui acabam tendo a mesma ordem de grandeza. Eis que em uma profética coincidência, quis o destino que a monumental obra do governo paulista, o trecho sul do Rodoanel (via expressa que interliga as principais rodovias que chegam à capital, evitando que os veículos de passagem tenham de entrar na cidade para seguir viagem), fosse inaugurada no mesmo dia (anteontem) em que foi realizado o primeiro experimento bem sucedido do CERN — também monumental. Ou melhor, mais ou menos no mesmo dia, já que a obra foi inaugurada, porém ainda não liberada para uso dos cidadãos.
Há várias similaridades com o gigante acelerador de partículas que vão muito além da forma circular (depois de completados os trechos leste e norte), senão vejamos: tal como o LHC, a obra paulista também atrasou, mais de dois anos, sendo que os investimentos foram de magnitudes parecidas. Enquanto o consórcio europeu que construiu o laboratório de partículas de última geração empenhou cerca de € 3 bilhões (~ R$ 7 bilhões), o governo de São Paulo, praticamente sozinho, desembolsou R$ 3,6 bilhões apenas para o trecho sul que, somado aos investimentos do trecho oeste (R$ 1,4 bilhão) e o orçado para o leste (R$ 5 bilhões), ultrapassa de longe o que foi gasto no Grande Colisor de Hádrons. O trecho norte ainda está em estudo.
O que não parece muito similar são os métodos. Deixando de lado as especulações a respeito do favorecimento ilícito de grupos de construtoras, que não ocorre no Brasil, e a perigosa aceleração das obras para serem inauguradas antes do desligamento do governador, pré-candidato à presidência, pode-se mencionar dois métodos heterodoxos utilizados pelo poder público paulista: os pedágios no Rodoanel e a resposta aos impactos da obra. No primeiro caso, o método desrespeita uma lei (2.481/53) do próprio estado que proíbe a cobrança de pedágio em um raio de 35 km do marco zero da capital e ainda vai em direção contrária à defendida por um dos principais idealizadores do grande anel viário, o falecido Mário Covas, membro do mesmo partido do governo. No segundo caso, o método desconsidera informações essenciais para o aperfeiçoamento do projeto, haja vista a desconsideração de um estudo, solicitado pela ARTESP (Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo) ao Lincoln Institute of Land Policy, informando que a obra teria um efeito insignificante, em longo prazo, nos congestionamentos da Grande São Paulo e a minimização pela DERSA (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), responsável pela coordenação das obras, dos resultados do laudo de um supervisor ambiental indicando que os impactos ambientais haviam superados os previstos no licenciamento da obra.
E o destino, irônico, apresenta mais uma coincidência entre o Rodoanel e o LHC: no trecho recém entregue, há seis praças de pedágio — e apenas dois postos de atendimento ao usuário, mas isto é um detalhe! —, o mesmo número de detectores de sub-partículas elementares do LHC — dois de grande, dois de médio e dois de pequeno porte.
Incrível, não?!
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