
E nesse tom surrealista, citemos Karl Marx (1818-1883), quem defendia que a organização de uma sociedade se estrutura a partir da lógica econômica vigente, ou seja, que a viabilidade econômica acaba por determinar boa parte das decisões de ordem pessoal tomadas pelos indivíduos. Esta sua ideologia visionária previu uma série de fenômenos sociais verificados ainda hoje, mais de um século após sua morte. A escolha da profissão por um jovem que, ao invés de orientar-se exclusivamente pela própria vocação, acaba por considerar também — e com grande peso — o potencial financeiro da atividade escolhida, é um exemplo típico.
O filósofo, no entanto, espantar-se-ia ao saber que seu mecanismo de influência social, um dia, poderia ser aplicado de forma tão fidedigna a outra situação absolutamente diversa, como a do trânsito paulistano. Atualmente, na região metropolitana, muitas das decisões de ordem pessoal — também estratégicas — têm de considerar, necessariamente, o trajeto e os congestionamentos a eles associados. O deslocamento diário pela cidade influencia não só as escolhas dos locais de residência, trabalho e estudo, como também as opções pelas atividades de lazer cotidianas, os horários escolhidos para trabalho e descanso, entre outros inumeráveis aspectos da vida de quem mora ou passa por aqui.
Ressalte-se que a questão não se aplica apenas àqueles que possuem seus próprios veículos, mas, sim, a qualquer pessoa que tenha de se deslocar diariamente pela cidade. Talvez o maior problema seja, mesmo, para quem dirige, já que, nos horários de pico, dez minutos de atraso podem se transformar em duas horas, ou mais, em alguns trajetos. Mas também para quem toma ônibus, apesar de menos drástico nas regiões com corredores exclusivos, o inconveniente termina por se manifestar nos afunilamentos de cruzamentos e vias principais, eliminando qualquer vantagem que o sistema pudesse oferecer. E não bastasse tudo isso, quem abdica de seu veículo automotor em favor do transporte coletivo ferroviário, tem de enfrentar a insuficiência do sistema nos horários críticos e o excesso de baldeações necessárias para se chegar das zonas periféricas às centrais, o que também eleva o tempo de percurso para além do razoável.
Assim, enquanto a solução do problema não se torna verdadeiramente prioritária para o poder público, o usual mau humor dos motoristas presos nos congestionamentos poderia ser melhorado com mais campanhas publicitárias similares. O único "porém" é que as modelos semi-nuas, desfilando entre os veículos, jamais seriam, realmente, de "parar o trânsito". Afinal, é impossível parar algo já se encontra estático.
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