E por falar em futebol e comunicação de massa, uma das coisas mais misteriosas que ocorre ao longo de grandes eventos esportivos na atualidade, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, é a aparente e generalizada pacificação de todo o planeta. Perceba que, nessas épocas, diminui, significativamente, a frequência, nos noticiários, de grandes acidentes, crimes hediondos, perigos de guerra, conflitos étnicos, atos de corrupção nas instituições, atentados terroristas, ameaças nucleares, catástrofes ambientais, etc. O fenômeno pode ser verificado por qualquer pessoa que acompanhe as notícias do cotidiano ao longo desses períodos. Tudo vira pequenas notas, exceto os acontecimentos ligados, de alguma forma, ao evento corrente. Poder-se-ia dizer que as grandes notícias acabam se dividindo, grosso modo, em somente dois tipos: as que se referem aos últimos resultados e aquelas sobre os próximos.
O mais provável é que essa bonança ocasionada pelo esporte seja ilusória, afinal, não há qualquer razão lógica para se acreditar que os responsáveis pelo "caos" mundial permaneçam inativos durante esse período de festa. Entretanto, as outras explicações possíveis para uma mudança tão perceptível na pauta jornalística da grande imprensa são bem menos românticas. Poderia ser, por exemplo, que os piores acontecimentos na sociedade fossem escolhidos a dedo para aparecerem nos veículos de comunicação — dando a impressão de que o mundo estaria muito pior do que realmente está — ou, talvez, que as notícias fossem escolhidas preferencialmente por critérios comerciais. Seja como for, na visão menos romântica, a realidade está sendo sempre distorcida ao sabor de algum interesse.
Assim, convenhamos, é melhor crer na ilusão de que o mundo melhora de fato, mesmo que temporariamente, durante esses eventos esportivos. Afinal de contas, seria péssimo imaginar que os órgãos de imprensa mais populares, aqueles que servem de "olhos" da população à uma realidade mais ampla, estivessem sendo manipulados velada e intencionalmente por quem exerce poder político e/ou econômico. Coisas assim só podem ocorrer, mesmo, em veículos menores de comunicação, aqueles que defendem os interesses de pessoas ou grupos insignificantes na sociedade.
Com tamanha bonança no mundo, não haverá espanto se algum dirigente das federações esportivas ganhar o Nobel da paz.
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