Aproveitando uma onda jornalístico-nostálgica, há que se destacar a reportagem publicada no Caderno de Ciências da Folha de São Paulo, justamente no "dia da mentira", primeiro de abril. O texto tratava dos indícios de que a indústria petroleira havia destinado recursos aos "céticos" do clima. Segundo a reportagem, um relatório do Greenpeace divulgou dados sobre o suporte financeiro dado por um grande conglomerado da indústria petroleira estadunidense a diversos grupos que questionam o fato das atividades humanas estarem contribuindo para o aquecimento global. O volume de recursos apurado teria ultrapassado os US$ 40 milhões, liberados ao longo de uma década, sendo cerca da metade entre os anos de 2005 e 2008. O dinheiro teria sido gasto em financiamentos de pesquisa, campanhas políticas, "lobby" direto e demais ações do gênero.
A empresa, proprietária do conglomerado com operações em mais de 60 países e faturamento ao redor de US$ 100 bilhões anuais, não nega os números, entretanto afirma que o relatório do Greenpeace distorce seu "histórico ambiental". Segundo comunicado à imprensa, o objetivo dos patrocínios seria o de fomentar o diálogo científico e promover um debate aberto e honesto de todos os lados, evitando a "demonização" de alguma posição específica — no caso a de que subprodutos do petróleo estivessem por trás das alterações climáticas. Entretanto, apesar da defesa pela multiplicidade de opiniões, aparentemente, não houve uma destinação similar de recursos financeiros para grupos ou instituições que estivessem pesquisando os efeitos climáticos das atividades antrópicas.
Seja como for, dentro de uma perspectiva democrática, não há, mesmo, como pretender tolher o direito de qualquer um de defender seus respectivos pontos de vista, seja o segundo maior grupo privado estadunidense, seja uma simples organização não-governamental. Mas, novamente sem entrar no mérito da questão, vale a pena analisar as motivações de cada um dos lados. Dentre os principais fatores que embasam a opção pela manutenção dos atuais níveis de extração fóssil estão, na melhor das hipóteses, a continuidade das operações industriais relacionadas à atividade e a consequente manutenção dos empregos (algo em torno de 70 mil empregos diretos no caso do grupo em questão). Já, entre os fatores contrários, está a preservação do planeta e da própria espécie humana (algo em torno de 7 bilhões de pessoas).
Agora, suponha, por um instante, que os especialistas da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, tivessem, deliberadamente, manipulado os resultados sobre o aquecimento global fornecidos ao IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) — o que não foi verificado nem pelo Comitê de Ética da universidade, nem pela própria Organização das Nações Unidas —, atribuindo, levianamente, a causa do aquecimento global à emissão de gases de efeito estufa. Suponha, também, que existisse uma conspiração civil orquestrada para aniquilar os negócios da indústria petroleira ao redor do mundo. Neste caso, o que estaria motivando tais ações?
Pensou?! Agora procure refletir, também, sobre as motivações do outro lado...
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