
Envolvido com um grupo socialista, cujas ideias se opunham às do tsar Nicolau I, Dostoiévski foi preso e condenado à morte por fuzilamento que seria executado após um período de confinamento sob regime de trabalhos forçados na prisão siberiana. Diz uma história que quando ele começou a perceber que não mais resistiria, prestes a sucumbir às agruras enfrentadas na prisão, decide escrever a seu irmão, suplicando-lhe que enviasse um texto qualquer, um livro, para que pudesse manter o próprio espírito vivo. Seu irmão, no entanto, não o envia. Dias depois, enquanto estava em uma fila de prisioneiros, já praticamente sem forças para continuar, uma senhora, camponesa, compadece-se de seu suplício e lhe entrega um evangelho que trazia no bolso da saia. Dostoiéviski o lê e o relê, desesperadamente, para se manter vivo espiritualmente.
Mesmo assim, chega o dia de seu fuzilamento, quando ele e alguns companheiros são amarrados e vendados para aguardar o momento derradeiro. Após tudo pronto, prestes a ser morto, chega uma carta de clemência do tsar, liberando-o do fuzilamento e salvando sua vida. Esta experiência macabra marcaria, profunda e definitivamente, a vida e a obra de Dostoiévski para dali em diante. Desde então, seus textos passaram a tratar das mais fundamentais facetas do ser humano. Em um de seus artigos publicados em O diário de um escritor (1873-1874), chega a afirmar que bastaria uma única experiência significativa na vida, uma única memória, para que toda a existência valesse a pena — aludindo, provavelmente, à própria experiência com a camponesa enquanto estava na prisão.
E aquela senhora, provavelmente, nunca deve ter se dado conta de que seu gesto simples de solidariedade foi capaz de influenciar o mundo inteiro...
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