Se existisse um oráculo verdadeiro que, na maioria dos casos, pudesse dar uma resposta precisa e confiável sobre o futuro de qualquer indivíduo... Se as notícias fornecidas por esse oráculo pudessem se referir à vida ou à morte, sendo que a data desta última, uma vez informada, não tivesse mais como ser adiada... E se, além disso, nesse oráculo e nessas condições, tal informação crucial acerca do futuro estivesse ao seu alcance... Qual seria sua opção: desejaria conhecê-la ou não?
Saber a provável data do próprio fim ou a terrível natureza de um sofrimento à espreita, talvez lhe fosse insuportável e, quiçá, preferisse viver sem essa informação pelo resto da vida. Afinal, de que adiantaria saber que uma síndrome terminal qualquer lhe acometeria dentro em pouco? Sem dispor de uma alternativa plausível que pudesse amenizar o sofrimento ou adiar a data da própria morte, a precisa previsão do oráculo teria muito pouca utilidade prática.
Entretanto, de modo contrário, talvez saber do curto período de vida restante lhe servisse para alterar, drasticamente, toda sua forma de viver. Sua existência, organizada dentro de uma perspectiva mais breve, poderia se tornar muito mais intensa para si e útil para seus entes queridos, compensando, até certo ponto, a infeliz limitação do tempo. Seria possível se preparar para o sofrimento em todos os sentidos, prático e psicológico.
Ou, talvez, estando consumido pelas atrozes dúvidas sobre o próprio destino, fosse melhor colocar logo um término nas desconfianças pelo conhecimento prévio do futuro, fosse ele bom ou mau. Talvez antever um destino trágico não machucasse mais do que conviver com a eterna incerteza. Haveria, ainda, a possibilidade de se livrar definitivamente do sofrimento, como em um passe de mágica, caso a notícia se mostrasse boa.
Eis aí uma questão extremamente pessoal e delicada à qual não há uma resposta correta. Com o estudo cada vez mais avançado do genoma humano, vai aumentando a possibilidade de se prever, com precisão, o desenvolvimento de certas doenças terminais ligadas a genes específicos — não multifatoriais. Por mais curioso que isso possa parecer, o maior desafio dessa empreitada será ético: discernir claramente entre a importância de tais estudos e suas implicações na vida de cada indivíduo. Da mesma forma que não se pode decretar o fim do "oráculo" porque alguém não deseja sua resposta, também não se pode exigir que todos o consultem, simplesmente, porque existe e está disponível.
O assunto poderia render uma tragédia grega em outros tempos...
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