A morte, apesar de muito explorada na filosofia, na arte, etc., nunca foi um assunto dos mais agradáveis. Exceção feita a alguns poucos grupos específicos, não costuma ser lá muito comum, pessoas se reunindo para discutir, animadamente, assuntos relacionados à própria morte. Muito pelo contrário, a tendência mais usual na sociedade moderna é, justamente, a de se esquecer, voluntária ou involuntariamente, de que a morte existe e que, um dia, chegará a todo e qualquer indivíduo. Curiosamente, os únicos animais que parecem possuir essa prévia consciência da própria morte — os seres humanos — são justamente os mesmos que lançam mão de uma série de artifícios para se esquecerem de que são mortais. Há quem diga, entretanto, que esse comportamento nem sempre foi tão exacerbado assim.
Nortbert Elias (1897-1990) foi um dos mais importantes sociólogos da história e seus trabalhos, ao longo dos quase cem anos de vida, contribuíram para diversas áreas do conhecimento humano. Alemão de origem judaica, Elias teve de deixar seu país quando, em 1933, os nazistas chegaram ao poder. Viveu por quase dois anos em Paris e, então, muda-se para Londres onde termina sua grande obra O Processo Civilizatório (Über den Prozess der Zivilisation, no original, ou The Civilizing Process, em inglês) que seria publicado apenas em 1939, na Suíça. Só oito anos antes de atingir a idade para se aposentar, em 1954, Elias se torna professor na universidade de Leicester. Após sua aposentadoria, lecionou ainda na Universidade de Gana e produziu uma vasta obra até sua morte em Amsterdã. Entre os diversos livros, A solidão dos moribundos, seguido de, Envelhecer e morrer (Über die Einsamkeit der Sterbenden in unseren Tagen, 1984) trata exatamente da morte como um problema social.
Ao longo do texto, de linguagem bastante acessível, Elias vai mostrando que a morte e suas implicações sociais foram se alterando, gradativamente, desde as sociedades mais antigas até as atuais em um processo que chamou de civilizatório, principalmente no mundo ocidental. Tal alteração nos padrões sociais acaba por culminar em uma espécie de "recalcamento", no indivíduo, da ideia de sua própria morte, levando, consequentemente, os velhos e moribundos para os "bastidores" da vida social. Sem pudores, Elias explicita que, assim solitários, eles se sentem "(...) — ainda em vida — excluídos da comunidade dos viventes." (Elias, Norbert. A solidão dos moribundos seguido de envelhecer e morrer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. p. 76). Talvez por ter perdido sua mãe no campo de concentração em Auschwitz, a maestria e singular sensibilidade para tratar a questão da morte e a relação entre vivos e moribundos é evidente em todo o estudo de Elias.
Pode-se dizer que se trata de uma leitura para ser feita pelo menos uma vez, em vida...
Nenhum comentário:
Postar um comentário