terça-feira, 22 de junho de 2010

Quer pagar quanto?


Ontem, na Folha de São Paulo, saiu uma notícia sobre as cifras perdidas pelo país com a má formação de engenheiros. Segundo a reportagem, cerca de R$ 26,5 bilhões (quase 1% do PIB) são perdidos com falhas nos projetos de obras públicas. O número, já assustador, aparentemente não considera os prejuízos em obras privadas ou nos demais projetos das inúmeras outras áreas de engenharia além da civil. Qualquer forno de tratamento térmico danificado, qualquer ferramenta de estamparia errada, qualquer lote de equipamentos eletro-eletrônicos defeituosos, qualquer processo químico mal controlado e lá se vão alguns outros milhares de reais pelo ralo — isto para não mencionar danos a vidas humanas ou ao ambiente decorrentes de tais falhas.

Ainda conforme a reportagem, no encontro nacional dos engenheiros em Curitiba — infelizmente, não foi encontrada uma referência na internet sobre este encontro —, além do prejuízo bilionário, foram também apresentados e debatidos outros números que refletem a crise da engenharia brasileira, além de propostas públicas e privadas para tentar reverter o problema. Apesar de algumas estatísticas esquisitas — como comparar o número de engenheiros formados na Índia e na China com o do Brasil que possui menos de 20% da população desses países —, a defasagem de mão-de-obra na área é evidente. Entre os vários fatores apontados como causas do problema, a ineficiente formação do ensino médio se destaca. Vale a pena comparar estes dados com os de outra reportagem, no mesmo jornal, comentada por aqui em "Engenheirando o Futuro" no final do ano passado.

Duas passagens do texto merecem ser mencionadas: uma sobre o que disse o vice-presidente de serviços de uma grande multinacional em um seminário promovido pela Câmara Americana de Comércio (Amcham) em São Paulo e outra escrita pelo próprio jornalista que assina a reportagem. A primeira se refere aos "caríssimos" salários pagos pela iniciativa privada aos seus engenheiros:

"Essa disputa [por engenheiros] não ajuda. Vamos perder se entrarmos numa guerra e ampliar a inflação dos custos de mão de obra." vice-presidente de serviços de uma multinacional, Folha de São Paulo, 21/06/2010.

Ao que o jornalista complementa dizendo que "o salário inicial, de R$ 1.500 em 2006, já atinge R$ 4.500" — valor este que sequer deve considerar a depreciação inflacionária no período. A segunda passagem fecha o texto da primeira página do caderno mercado:

"(...) 'Por que o jovem quer ser médico e advogado e não quer ser engenheiro e professor de matemática?'. Exemplo de baixa procura pela área ocorreu em concurso para professor de física em São Paulo. De 931 vagas, só 304 foram preenchidas." jornalista, Ibidem.

Como dizia uma personagem de um programa humorístico na televisão, "é melhor não comentar". Os engenheiros e professores que tirem suas próprias conclusões a respeito...


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