quarta-feira, 9 de junho de 2010

Um fragmento de ilusão


"Ele o olhava incrédulo enquanto tentava argumentar novamente:

— Vamos, homem, ela não vem mais!
— Deve ter acontecido algo no caminho, vamos aguardar mais um pouco...
— Eu já lhe disse. Ela me pediu, pessoalmente, para lhe avisar de que não viria mais. Deixou-me até esse lenço como prova. Você não o reconhece?
— Claro que sim! Foi meu último presente a ela...
— Pois, então! Vamos embora!
— Tenho certeza de que foi algum mal entendido. Ela está apaixonada, assim como eu...
— Olha, pode até ser, mas, francamente, não é por você.
— Pare de dizer besteiras! Ela me ama!
— Será que eu estou falando em outra língua que você não entende? Deixe-me repetir: foi ela mesma quem falou comigo!
— Ela devia estar brincando com você...
— Por que você não liga para ela e pergunta?
— É, já tentei. Sem resposta...
— Então, vamos até a casa dela!
— Olha, não há necessidade. Façamos o seguinte: deixarei um bilhete aqui para ela, afinal, também não posso ficar segurando você aqui por muito mais tempo. Aí, amanhã eu volto sozinho.
— Bom, você é quem sabe... Ninguém pode dizer que eu não tentei.

Rapidamente, o rapaz rabiscou algo em um pedaço de papel e deixou sobre o banco. Colocou uma pequena pedra por cima para que o bilhete não voasse com o vento e saiu caminhando com o outro que ainda expressava um ar de incrédulo, porém já resignado. Quem os visse ali, caminhando lado a lado naquele final de tarde, não poderia sequer imaginar a distância que separava aqueles dois mundos tão distintos.
"

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