quarta-feira, 30 de junho de 2010

A via-crúcis da comunicação


Escrever pode parecer uma tarefa simples, mas, definitivamente, não o é — tampouco é tão complexa a ponto de se tornar proibitiva para quem quer que seja. O "problema", talvez, resida não no ato de escrever em si, mas na exposição clara e precisa das ideias, de uma forma compreensível à quem se proponha a ler o texto final — é esta, provavelmente, a intrincada tarefa a ser realizada por qualquer autor ou uma autora. Conseguir uma organização adequada da informação e delimitar as possibilidades de sua compreensão pelo outro parecem ser fundamentais para se produzir um texto bom e funcional ao mesmo tempo.

Com respeito à organização, pode-se dizer que se trata de uma necessidade, até certo ponto, trivial para qualquer produção escrita. Sem ela, normalmente, são prejudicados o sentido, a lógica e a coerência do texto — o "começo, meio e fim", como se diz por aí — e a informação acaba sendo transferida de forma diversa daquela que se pretendia originalmente, perdendo-se ou se alterando ao longo do processo. No caso de uma obra artística como um poema, por exemplo, talvez o problema não seja, assim, tão evidente já que o resultado final — os sentimentos, o estranhamento, etc. — dependem, em grande parte, da subjetividade de quem lê. Mas em um texto mais técnico, a falta de organização é fatal para o objetivo desejado: a compreensão precisa do que está sendo comunicado.

A delimitação do que o outro — o leitor ou a leitora — pode entender ao ler o texto é uma necessidade um tanto mais refinada. Quem já teve contato com alguma das obras de Durkheim, por exemplo, deve ter percebido o extremo cuidado com que o autor define não apenas os termos e conceitos que utiliza, mas como e em quais condições os mesmos podem ser empregados. A aparente prolixidade esconde, na realidade, uma árdua missão de evitar interpretações diversas — ou a compreensão equivocada — daquela pretendida pelo autor. Este método, infelizmente, apresenta um efeito colateral: a perda de atratividade do texto para um significativo percentual de potenciais leitores — quem não esteja interessado especificamente naquela área, claro. Se o objetivo original era o de comunicar certos conceitos ao maior número possível de pessoas, talvez essa não seja uma boa saída.

Assim, levar em conta não apenas o que se escreve, mas também a forma como o outro compreenderá, faz com que o bom comunicador sempre oscile entre o que lhe parece excessivamente óbvio e a complexidade necessária para manter a fidelidade entre o texto e o pensamento que deseja transmitir — o que para os menos experientes é uma tortura. Não obstante, é, para qualquer escritor, um excelente exercício de humildade, pensamento crítico, auto-conhecimento, etc.

Não seria exagerado afirmar que escrever poderia até ser considerada uma forma de ascese...


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