terça-feira, 8 de junho de 2010

Se é possível complicar...


O texto de ontem acabou lembrando uma outra reportagem, também da Folha, falando sobre um encontro em Asilomar, Pacific Grove, Califórnia, EUA, onde foram discutidas formas de intervenção tecnológica em larga escala para deter as alterações climáticas que veem se tornando cada dia mais contundentes no planeta Terra. Trata-se de uma moderna área da ciência — com ares de ficção científica — conhecida como geoengenharia que estuda a viabilidade e os efeitos de tais intervenções planetárias. O espectro de opções disponíveis vai desde ações aparentemente inofensivas, como pintar de branco as superfícies urbanas para refletir um maior percentual de energia solar incidente, até o despejo de milhões de toneladas de compostos sulfurados (com enxofre) na estratosfera terrestre, visando o mesmo fim.

Algumas experiências-pilotos, inclusive, já até foram realizadas, como a fertilização de oceanos com ferro para aumentar a população de cianobactérias que consomem o carbono do ar, fixando-o na composição de sua carapaça que, ao morrer, afundam no mar. O problema de todos esses procedimentos é que, usualmente, apresentam efeitos colaterais nocivos previsíveis — além, claro, dos imprevisíveis também. No caso das cianobactérias, por exemplo, os riscos mais evidentes são os desequilíbrios na ecologia dos microorganismos marinhos — seja por competição desigual, seja por acidificação da água causada pelo carbonato oriundo de seus resíduos mortais —, gerando uma reação em cadeia que poderia atingir toda a fauna e flora oceânica, talvez mundial. Além dos riscos, os recursos econômicos demandados apresentam a mesma ordem de grandeza dos objetivos desejados, ultrapassando — para a maioria das opções — a casa das dezenas de bilhões de dólares.

O mais curioso, entretanto, é que a opção aparentemente mais fácil — a de parar ou minimizar a ação antrópica responsável pelo desequilíbrio — esbarra em uma série de interesses que parecem inviabilizá-la completamente. Quem já tem um pouco mais de idade, deve se lembrar, por exemplo, do espanto mundial quando se descobriu que o uso dos gases CFCs estavam diminuindo a espessura da camada de ozônio na alta atmosfera terrestre. Alguns anos mais tarde, sob os auspícios do Programa das Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente, firmou-se o Protocolo de Montreal, assinado em 1987 e colocado em vigor em 1989, no qual os países signatários se comprometiam a reduzir a produção e o consumo dos gases que agrediam a camada de ozônio. Atualmente, mais de vinte anos depois, as medições começam a sinalizar uma interrupção no crescimento do "buraco" da camada de ozônio sobre o continente antártico — um resultado extraordinário, sem que nenhuma intervenção planetária mirabolante fosse levada à cabo.

Como diriam alguns, entretanto, para que simplificar, não é mesmo?!


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