Há uma verdade muitíssimo mais inconveniente do que aquela tratada pelo ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, no seu documentário sobre o meio-ambiente. Algo do qual muito poucos ousam falar e que assombra qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade humana: o terrorismo de Estado. Sem carros-bomba, sem explosões suicidas e sem sequestros de aviões, esta modalidade de terrorismo já matou muito mais gente do que todo o terrorismo tradicional somado ao longo de toda história. E note que o termo empregado, "muito mais", não se refere ao dobro, triplo ou quádruplo de vítimas, mas muito mais mesmo! Se somadas todas as vítimas dos atentados terroristas movidos por vieses ideológicos, talvez não chegue a um décimo dos assassinatos promovidos, frequentemente sob o pretexto de combatê-los, por governos ao redor de todo o mundo.
O termo foi cunhado pela antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas para designar as ações violentas empregadas pelos governos autoritários sul-americanos na repressão aos movimentos nacionais de extrema esquerda, comuns à região na década de 1970 — ironicamente, os próprios soviéticos usaram e abusaram desse artifício para alcançar seus propósitos políticos. Atualmente, o termo se refere às ações violentas e desproporcionais de um Estado para subjugar pessoas e organizações. São exemplos claros do terrorismo de Estado os genocídios promovidos pelos governos stalinista, nazista e de Mao Tse-tung, dentre tantos outros.
O mais recente episódio ocorrido — e que ilustra perfeitamente do que se trata o terrorismo de Estado — foi a ação promovida pelo Estado de Israel no final do mês passado (31/05/2010). Agentes israelenses desceram de helicóptero, durante a noite, em um navio que tentava furar o bloqueio da Faixa de Gaza, levando ativistas civis, em sua maioria turcos, e ajuda humanitária à região. Na operação, assassinaram nove pessoas e feriram várias outras. Por mais absurdo que possa parecer, o governo israelense se justificou dizendo que foram os ativistas que começaram com a violência. Nem as pesadas críticas internacionais — inclusive dos históricos parceiros estadunidenses — nem a disposição da Organização das Nações Unidas em instaurar um inquérito internacional para investigar o caso, sensibilizaram a auto-crítica do governo de Israel o qual não parece compreender que, se não há qualquer justificativa para uma ação terrorista civil, ainda há menos justificativa para uma ação terrorista de Estado.
O terrorismo de Estado se apoia em leis e políticas públicas aparentemente legítimas e que se propõe a proteger toda a população de um país, mas, na verdade, frquentemente escondem interesses espúrios de grupos dominantes que desejam a manutenção de seu poder — não fosse assim, uma rápida análise quantitativa do que é publicado sobre terrorismo encontraria, pelo menos, um certo equilíbrio entre as duas modalidades. E as preocupações com a ampliação do debate sobre essa "verdade extremamente inconveniente" é simples: um Estado só se sustenta com o apoio da maioria de seu povo.
Assim, da próxima vez que se deparar com uma notícia sobre algum ato terrorista, não custa refletir se sua posição é, de fato, contrária ao terrorismo ou apenas favorável a alguma outra modalidade dele.
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