sábado, 12 de junho de 2010

A cosmovisão das mensagens eletrônicas


Haja paciência para ver a infinidade de mensagens impessoais que chegam, todo santo dia, nas caixas de correio eletrônico! São piadas, fotos, videos, apresentações, boatos, textos dos mais diversos, correntes, mandingas, pornografia, campanhas, propagandas, mensagens religiosas, de auto-ajuda, motivadoras, de alerta, de informação, curiosas, sobrenaturais, enfim, absolutamente tudo o que se pode ver, ler, ouvir ou imaginar diante de uma tela de computador. Infelizmente, muito pouca coisa se aproveita, mas, procurando bem, até que se encontram coisas que valham a pena. Sejam as belas imagens que ilustram alguma bobagem textual de uma apresentação, sejam referências interessantes em algum texto ridículo. Tal como é necessário revolver toneladas de terra para se obter alguns gramas de ouro, também o é para se encontrar algo valioso no meio de tanta porcaria.

De qualquer forma, pode-se dizer que há um ganho indireto nesse tipo de prospecção. O conjunto dos conteúdos pode dar uma ideia, mesmo que superficial, da "fauna" — não entenda o termo pejorativamente, mas no sentido de diversidade — que povoa a internet de uma maneira geral. Há muita coisa útil que se pode depreender sobre o caráter e a personalidade das pessoas, tanto daquelas que criam quanto daquelas que enviam determinadas mensagens. Ao receber uma mensagem que, ao invés de apenas criticar posicionamentos político-ideológicos, desrespeita a pessoa de um presidente da república, por exemplo, você começa a não mais se espantar quando alguém lança o famoso "você sabe com quem está falando?" em uma situação cotidiana. Ao receber uma mensagem que, ao ser reenviada, diz-se que será rastreada e contabilizada para, no final, render algum prêmio a quem a enviou, você começa a entender como há quem acredite, sem questionar, absurdos monumentais veiculados nos grandes meios de comunicação.

Especialmente no que se refere a seus criadores, certas mensagens são utilíssimas para evidenciar peculiaridades morais, preconceitos e ideologias que, de outra forma, dificilmente seriam exprimidas ao público. Como exemplo, pode-se citar uma mensagem recém recebida que falava sobre como o nível educacional vem piorando no decorrer dos tempos. O texto iniciava citando algumas práticas e disciplinas comuns nas escolas há alguns anos atrás (à época da ditadura militar) e ia seguindo com o suposto relato de uma professora de matemática sobre a dificuldade de uma atendente em calcular o troco que teria de devolver. O ápice era atingido ao se descrever como uma simples questão de matemática viria sendo aplicada ao longo das décadas, tornando-se cada vez mais débil até o ponto de, na atualidade, transformar-se em uma mera orientação. A redação terminava ironizando as políticas de cotas para afro-descencentes, portadores de deficiência, indígenas e minorias sociais. O fechamento era dado pelo parágrafo final, uma espécie de "moral da história", dizendo o seguinte:

"Todo mundo está 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... Quando é que se 'pensará' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

Faltou dizer que com mensagens desse tipo, certamente é que não será...

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