E a Copa do Mundo, finalmente, começou. Pela primeira vez na história, o maior espetáculo futebolístico da Terra se inicia no continente onde, muito provavelmente, evoluíram os primeiros espécimes humanos — a África. Infelizmente, o atual nível de desenvolvimento sócio-econômico de seus países, entretanto, não reflete, nem de longe, a antiquíssima história de seus habitantes. Mesmo assim, um dos Estados de melhor situação, a África do Sul, foi escolhido para sediar o mágico evento quadrienal usado como uma espécie de panaceia dos problemas sociais e econômicos. Segundo os dirigentes do país, a expectativa é de reverter ao povo africano todas benesses oriundas dos bilionários investimentos exigidos para a ocorrência da grande festa esportiva.
Deve-se levar em conta que as realidades neste período, por piores que sejam, parecem assumir contornos menos duros. As dificuldades são colocadas em um plano secundário, os períodos de trabalho são diminuídos, as reuniões entre amigos e familiares se tornam mais frequentes e quase todos se juntam em um uníssono grito de incentivo ao triunfo nacional, simbolizado pela vitória da seleção de futebol do seu país. Telas espalhadas pelos locais públicos nas cidades garantem que o espetáculo só não chegue a quem, deliberadamente, não o deseje — diversão gratuita e de qualidade às massas. É, sem dúvida, um mundo bastante mais agradável do que se costuma vivenciar em outras épocas.
Realmente, só é uma pena que depois dos gols de placa, dos lances polêmicos, das viradas de jogo inacreditáveis, dos pênaltis perdidos, enfim, de todos os instantes emocionantes que só um campeonato mundial de futebol e suas seleções nacionais podem proporcionar, tudo volte como era antes. As dificuldades tornam a parecer insuperáveis, os períodos de trabalho aumentam (às vezes sem remuneração extra), as reuniões entre amigos e familiares se tornam esparsas e quase todos voltam a se preocupar, predominantemente, com os próprios desejos e necessidades. As telas praticamente desaparecem dos locais públicos nas cidades e a diversão de qualidade volta a ser cara e elitista. Ao contrário do período de jogos, entretanto, tais condições não durarão cerca de um mês, apenas, mas quase quatro longos anos.
E ao final de tudo, os mais atentos perceberão que o cotidiano nunca retorna, exatamente, à mesma situação anterior à copa, mas estará, provavelmente, minimamente pior. Nada que não possa ser compensado no próximo mês de copa, quatro anos depois, e, assim, sucessivamente.
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