quarta-feira, 16 de junho de 2010

Discursos e exemplos


Como comentado no sábado passado em "A cosmovisão das mensagens eletrônicas", uma das vantagens de se ler tudo o que cai nas mãos é ficar sabendo das muitas histórias inusitadas que acontecem por aí. Um texto da psicóloga Rosely Sayão, no caderno "equilíbrio" da Folha de São Paulo do dia 8 de junho passado, falava sobre a dificuldade dos adultos em "ensinar" às crianças e adolescentes sobre relacionamentos amorosos. O ponto levantado pela autora se referia ao fato de que muitos dos comportamentos inadequados, verificados cada vez mais precocemente nos filhos, eram adquiridos por mera observação que as crianças fazem dos exemplos dados pelos próprios adultos. Por que uma criança ou adolescente deveria acreditar que o normal é um relacionamento duradouro e equilibrado com tanta gente reclamando dos compromissos impostos por um relacionamento longo e agindo, frequentemente, de maneira desequilibrada em relação à questão?

A despeito da seriedade exigida pelo assunto, a sobriedade não resiste ao desenrolar de uma das histórias que Sayão relata no seu texto para corroborar sua argumentação. Contava que uma menininha, no auge dos seus quase sete anos de idade, inquiriu sua professora sobre o porquê dela usar duas alianças em uma de suas mãos e arriscou um palpite perguntando se ela possuía dois namorados. Achando graça, a professora, então, explicou que não se tratava de duas alianças, mas de dois anéis e que ninguém tinha dois namorados. Ao que a menina, prontamente, replicou que não era o caso da sua mãe. Completamente sem graça, a professora acabou não sabendo como levar a conversa adiante e encerrou o papo.

Talvez se os adultos fossem tão sinceros quanto as crianças, o mundo seria bem melhor — se não, ao menos muito mais divertido. Poder-se-ia enxergar a vida — parafraseando Nélson Rodrigues — exatamente como ela é. Note que com sua história, a menininha não estava discursando sobre a moral da sociedade, julgando o comportamento de sua mãe ou qualquer outra dessas armadilhas onde costumam cair certas discussões. Estava, simplesmente, lembrando uma característica humana básica, mas que é frequentemente esquecida pela maioria das pessoas: o ser humano aprende através dos exemplos de outros seres humanos. E se há coisas que nem os adultos entendemos bem o porquê de acontecer no mundo, pode-se fazer ideia do que se passa na cabeça de uma criança com acesso a exatamente as mesma coisas...


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