sexta-feira, 16 de julho de 2010

Bueiros mal criados


Os mais velhos, antigamente, costumavam alertar as crianças para não caminhar sobre as tampas de bueiro espalhadas pela cidade. A sábia orientação se baseava, provavelmente, no risco de algumas delas estarem mal encaixadas ou danificadas, havendo, portanto, o perigo de uma queda nos buracos que tampavam. Além dos eventuais transtornos que a sujeira ou a perda de tempo poderiam causar, havia, claro, toda uma preocupação com respeito à integridade física das crianças, já que a gravidade dos traumas resultantes de uma queda poderiam variar de simples arranhões até a quebra de alguns ossos. O que poucos, entretanto, poderiam imaginar naquela época é que um bueiro fosse capaz de infligir danos físicos a ponto de ameaçar a vida de qualquer pessoa, algo que, por mais absurdo que possa parecer, viria a ocorrer muitos anos mais tarde.

No Rio de Janeiro, já somam oito as explosões em bueiros ao longo dos últimos seis meses, resultando em danos materiais e ferimentos a várias pessoas. Dois turistas estadunidenses, inclusive, tiveram boa parte do corpo queimado em um dos incidentes, sendo que a mulher, com 80% do corpo queimado, permanece entre a vida e a morte no hospital já há algum tempo. A responsabilidade das instalações subterrâneas parece ser da concessionária de energia elétrica do estado que, em meio à frequência incomum dos acidentes, afirmou manter um planejamento estratégico das ações necessárias para toda a rede de distribuição, tendo mais que dobrado os investimentos previstos para a rede subterrânea neste ano. Agora, na última quarta-feira (14/07/10), o prefeito da cidade convocou os representantes das concessionárias (energia elétrica e gás) para discutir a situação.

Longe dali, mesmo sem notícias de explosões, São Paulo também foi palco de uma morte causada por outro "bueiro". No início deste ano, uma jovem de 27 anos morreu após ter caído em uma galeria aberta de água pluvial durante um dos temporais que assolaram a cidade no verão passado. A fatalidade, aparentemente casual, poderia ter sido facilmente evitada com uma simples grade de proteção na entrada da galeria. Neste caso, entretanto, muito pouco se falou sobre as responsabilidades do incidente.

Que nossos avós nos protejam dessas bocas-de-lobo criadas, assim, para ser tão ferozes!


Nenhum comentário:

Postar um comentário