
Uma variante transgênica do algodão, conhecida como "Bollgard" ou "Bt", vem sendo usada há décadas em alguns países e foi, no ano passado, liberada para plantio e comercialização no Brasil, conforme parecer técnico da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) publicado em 29/04/2009. A espécie é, literalmente, uma planta inseticida tendo parte de seu genoma alterado pela adição de trechos genéticos extraídos de vírus e bactérias — como a Bacilus thuringiensis, Escherichia coli e o Caulimovirus — produtores de toxinas nocivas especialmente para as lagartas-do-algodão (Helicoverpa armigera). Especialistas brasileiros foram contra sua liberação, por entenderem que os benefícios não compensavam os riscos ambientais envolvidos no plantio da espécie transgênica, entre os quais, a esterilização do solo cultivado, a contaminação e perda de espécies nativas (especialmente no cerrado), transbordamento genético para outras espécies, desequilíbrio ecológico de insetos, além de outros riscos referentes à segurança alimentar humana e animal.
A conclusão do estudo técnico apresentado pela Monsanto à comissão de biossegurança não deixa margem para dúvidas: "(...) o algodão MON 15985 [variante Bt] foi considerado tão seguro quanto o algodão convencional para o meio ambiente e o uso na alimentação humana e animal." (Berger, G. U. A biossegurança do algodão geneticamente modificado resistente a insetos MON 15985: Processo nº 01200.003267/07-40. São Paulo: Monsanto do Brasil Ltda., 2007. p. 35). Apenas três anos mais tarde, entretanto, especialistas chineses publicaram um artigo na revista Science Magazine afirmando que as culturas de algodão Bt, embora eficientes no controle das lagartas-do-algodão, desencadearam o aparecimento de uma nova praga, de percevejos, prejudicando não apenas as lavouras de algodão, como também outras culturas nas mesmas regiões (Lu, Yanhui et al. Mirid Bug Outbreaks in Multiple Crops Correlated with Wide-Scale Adoption of Bt Cotton in China. Science Magazine, May 13, 2010.).
O exemplo citado é apenas um dentre tantos outros resultados contraditórios envolvendo o controverso assunto dos organismos geneticamente modificados. Longe de se pretender avaliar a relação entre riscos e benefícios, o fato, mesmo, é que há parcialidade demais em muitos dos estudos feitos e uma certa leniência das autoridades com relação ao assunto. Como comentado por aqui em "Informar pra quê?", havia um "lobby" extremamente poderoso contra a aprovação de uma lei que, simplesmente, requeria a indicação clara dos produtos contendo alimentos transgênicos, algo que não parece ser nada razoável.
É provável que nem mesmo Nietzsche — ao pensar que não eram fatos, senão interpretações, que existiam — poderia imaginar o ponto em que a ciência dos transgênicos chegaria.
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