
Em outra ocasião, anterior e sem relação com a primeira, este mesmo amigo dissera que era adepto do anarquismo, o que causou um certo estranhamento em quem o escutava — a ignorância costuma gerar esse tipo de reação. Boa parte da surpresa sobre aquela afirmação, claro, vinha do desconhecimento a respeito do que é o anarquismo. Como há quase nenhum interesse na conscientização política dos cidadãos, a anarquia acabou se tornando, para o senso comum, sinônimo de desordem, bagunça ou confusão. O anarquismo, entretanto, é um sistema político, de fato, que se baseia no princípio da negação de autoridade, priorizando a total autonomia, liberdade e independência dos indivíduos. Em uma sociedade anárquica, não existiria um governo que imponha, pela força, as obrigações a serem cumpridas, sendo que a ordem e as necessidades se dariam por instituições organizadas voluntariamente. Seria uma espécie de federalismo que — nas palavras de A Plebe, um antigo jornal anarquista de São Paulo — "é a doutrina que, ao contrário do Centralismo dos políticos e dos soitanas (referência ao clero), congrega homens diversos em organismos ou sociedades, sem perda de sua autonomia individual, congrega organismos ou sociedades na federação, sem perda da autonomia societária, congrega ainda as federações nas confederações e estas nas internacionais, mas tendo impoluta a autonomia em toda a sua plenitude" (A Plebe, São Paulo: 23/07/1927 apud Tronca, 1990).
O anarquismo, com raízes ainda na escola grega de filosofia, teve, entre seus pensadores, nomes como o do russo Mikhail Bakunin e do francês Pierre-Joseph Proudhom. Experiências anárquicas — aparentemente utópicas — surgiram em bem poucas localidades e durante muito pouco tempo. O exemplo mais relevante talvez seja o da Comuna de Paris (1871), um "governo" revolucionário instaurado na cidade de Paris em meio a guerra franco-prussiana. Este acontecimento, tão superficialmente mencionado nos livros oficiais de história, resistiu de março a maio de 1871 sob constante ataque de ambos os exércitos, o francês e o prussiano. Mesmo tendo, os "communards", estabelecido como primeiro decreto a abolição do serviço militar obrigatório, os membros daquela sociedade anárquica se mobilizaram, voluntariamente, em prol do objetivo comum, sendo detidos apenas pela imposição de um massacre promovido pelo exército francês auxiliado pelo prussiano.
Com tudo isso, fica fácil entender o porquê de nenhum daqueles amigos desejarem ocupar a presidência do diretório regional...
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