Recentemente, pressionado pelos índios, o Ministério Público de Roraima iniciou um processo administrativo para que as amostras fossem devolvidas. Das instituições estadunidenses contatadas, cinco universidades confirmaram manter, ainda, o material guardado. Se entregues, as amostras deverão ser inativadas microbiologicamente e retornadas ao seio do povo ianomâmi que tem o costume de queimar seus mortos e misturar suas cinzas à alimentação para que não sobre absolutamente nada dos falecidos — sequer seus nomes voltam a ser mencionados. Segundo sua tradição, não há mais lugar para os mortos entre os vivos. No caso das amostras de sangue, deverão ser jogadas nas águas do rio de onde, segundo a lenda, todo o povo surgiu.
O assunto é bastante polêmico, principalmente entre os cientistas que esperavam poder concluir vários testes com as amostras, desde o mapeamento genético do DNA indígena até a comparação para controle de mutações nas vítimas das bombas atômicas. Mas, além do questionável método empregado para conseguir o material, várias outras questões se colocam na relação entre a ciência e a cultura do povo ianomâmi: o potencial progresso científico pode justificar o desrespeito à vontade soberana de um povo? Caso houvesse alguma descoberta nas células dos ianomâmis que pudesse ser comercialmente explorada, de quem seriam os direitos econômicos da exploração? A crença na ciência tem maior valor que a crença nos mitos da cultura ianomâmi?
Definitivamente, a ética e a discussão de suas fronteiras continuam em franca expansão...
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