quinta-feira, 29 de julho de 2010

Torcida pela falta de inteligência


"O difícil é você se livrar dos idiotas que pretendem lutar ao seu lado interpretando a sua negação da cultura dominante como uma afirmação de louvor à ignorância."

Millôr Fernandes

Não é muito difícil de imaginar o que Millôr deve ter ouvido antes de escrever uma frase dessas; provavelmente, muita baboseira. Interpretações equivocadas de pensamentos alheios é uma constante na vida de muita gente, especialmente de quem escreve, já que não há muito como desdizer, posteriormente, aquilo que foi registrado. Seja por uma limitação de inteligência de quem interpreta ou pela inabilidade de expressão de quem formula o conceito, a verdade é que coisas absurdas podem emergir desse processo. E talvez por isso seja tão admirável aqueles que expõem, sem rodeios, seus pensamentos e opiniões, ostentando invejáveis coragem e disposição para enfrentar a barbárie de compreensões erradas que surgirão.

Somam-se a isso, também, dois outros problemas muito comuns: a necessidade de outras pessoas que compartilhem da mesma ideia e a intencionalidade de certos "equívocos" interpretativos. O primeiro, também considerado na citação de Millôr, advém do fato de vivermos em sociedade e, consequentemente, da necessidade de uma "massa crítica" de "seguidores" para que determinados conceitos se concretizem — como disse Raul Seixas em seu Prelúdio, "um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade". Já o segundo — o mais grave — aparece quando alguém, que deseja algo contrário ou que não deseja, simplesmente, que uma determinada ideia se concretize, lança mão de artifícios vários para induzir outras pessoas ao erro — como quando Odorico Paraguaçu, em O Bem-amado, pergunta, para a pessoa que o questiona sobre o desvio de verbas públicas para a própria campanha, se ele é contra a democracia.

A pior situação é, sem dúvidas, a última, já que o resultado final é sempre o prejuízo, tanto do autor de um determinado pensamento (o foco da deturpação) quanto das outras pessoas que poderiam dele se beneficiar. Serão, certamente, muitíssimos os exemplos desse tipo de conduta nos próximos meses de campanha eleitoral. Os mesmos candidatos terão, sempre, duas imagens absolutamente distintas: a de seus apoiadores e a de seus adversários. As ideias, também, exatamente as mesmas, serão apontadas como geniais por uns e criminosas por outros. E, assim, não cessarão as interpretações equivocadas até o final.

Pode até parecer estranho afirmar tal coisa, mas talvez o mundo fosse melhor se as distorções decorressem apenas da inteligência limitada...


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