
A genialidade de um artista que compunha já aos cinco anos de idade parece indiscutível. Mas, ao que parece, nem toda sua capacidade artística foi suficiente para superar um problema "banal": viver dignamente na sociedade. Cônscio de seu próprio valor, recusava-se a se adaptar aos padrões da época e esta inadequação acabou por lhe custar bem caro ao longo de sua curta existência. Por outro lado, a decisão de não se sujeitar ao poder da nobreza, proporcionou-lhe a liberdade necessária para que sua genialidade se evidenciasse em toda plenitude. Como bem observa Elias em sua obra, "(...) A ideia de que o 'gênio artístico' pode se manifestar em um vácuo social, sem levar em conta a vida do 'gênio' enquanto ser humano na convivência com os outros, pode parecer convincente se a discussão permanecer num plano muito genérico. Mas, se examinamos casos exemplares, considerando todos os detalhes relevantes, a noção de um artista se desenvolvendo autonomamente no interior de um ser humano perde muito de sua plausibilidade." (Elias, Norbert. Mozart: sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Zahar. p. 125-6.).
Sua história mostra que indivíduo e sociedade vivem em um eterno estado de negociação. Se, por um lado, uma espécie de "coerção" social tenta preservar seus membros de perigosos extremismos, por outro, acaba por privá-los de valiosos progressos em determinadas áreas. Se Mozart tivesse se submetido às vontades da nobreza austríaca, talvez sua vida fosse mais confortável, longa e profícua do que foi sob o peso das suas dificuldades financeiras. Neste caso, entretanto, talvez também não legasse à posteridade obras com tão alto nível, até hoje reconhecidas como tal. Gênio que era, optou por não deixar nada menos do que o melhor de si para a mesma sociedade que o preteriu. Talvez soubesse, no íntimo, que a sociedade era muito mais do que os poucos que tentam controlá-la.
No final, venceu, mesmo que, como tantos outros, não tenha visto isto acontecer.
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