No dia 27 de janeiro de 1756, em Salzburgo, Áustria, nascia um dos maiores compositores de todos os tempos: Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Apenas cinco anos mais tarde, já tocando piano e violino, começou a compor suas próprias músicas e a se apresentar para a realeza europeia. Tornou-se famoso ainda muito jovem, e acabou sendo nomeado organista da corte de Salzburgo em janeiro de 1779, logo após a morte do predecessor. Embora tivesse sido contratado para servir, diligentemente, a corte e a igreja de Salzburgo, Mozart era relapso com tais obrigações. Sua atitude desafiava o poder estabelecido na sociedade da época, o que acabou por lhe proporcionar uma série de entreveros e nenhuma estabilidade financeira ao longo de toda sua vida. Em dezembro de 1991, morre e deixa a esposa e dois filhos, sendo enterrado em uma vala comum em Viena.A genialidade de um artista que compunha já aos cinco anos de idade parece indiscutível. Mas, ao que parece, nem toda sua capacidade artística foi suficiente para superar um problema "banal": viver dignamente na sociedade. Cônscio de seu próprio valor, recusava-se a se adaptar aos padrões da época e esta inadequação acabou por lhe custar bem caro ao longo de sua curta existência. Por outro lado, a decisão de não se sujeitar ao poder da nobreza, proporcionou-lhe a liberdade necessária para que sua genialidade se evidenciasse em toda plenitude. Como bem observa Elias em sua obra, "(...) A ideia de que o 'gênio artístico' pode se manifestar em um vácuo social, sem levar em conta a vida do 'gênio' enquanto ser humano na convivência com os outros, pode parecer convincente se a discussão permanecer num plano muito genérico. Mas, se examinamos casos exemplares, considerando todos os detalhes relevantes, a noção de um artista se desenvolvendo autonomamente no interior de um ser humano perde muito de sua plausibilidade." (Elias, Norbert. Mozart: sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Zahar. p. 125-6.).
Sua história mostra que indivíduo e sociedade vivem em um eterno estado de negociação. Se, por um lado, uma espécie de "coerção" social tenta preservar seus membros de perigosos extremismos, por outro, acaba por privá-los de valiosos progressos em determinadas áreas. Se Mozart tivesse se submetido às vontades da nobreza austríaca, talvez sua vida fosse mais confortável, longa e profícua do que foi sob o peso das suas dificuldades financeiras. Neste caso, entretanto, talvez também não legasse à posteridade obras com tão alto nível, até hoje reconhecidas como tal. Gênio que era, optou por não deixar nada menos do que o melhor de si para a mesma sociedade que o preteriu. Talvez soubesse, no íntimo, que a sociedade era muito mais do que os poucos que tentam controlá-la.
No final, venceu, mesmo que, como tantos outros, não tenha visto isto acontecer.
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