quinta-feira, 22 de julho de 2010

O valor da experiência


Uma das características mais fundamentais de um bom engenheiro ou engenheira — aliás, de qualquer ser humano — é possuir suficiente humildade para ouvir, muitas sugestões e opiniões que surgem no transcorrer de seu trabalho, e perguntar, sempre que necessário. Isto porque muitos conhecimentos não são aprendidos na academia, baseando-se apenas na experiência prática dos indivíduos — especialmente aqueles originados entre o pessoal da operação. Assim, se bem avaliada, qualquer opinião pode ser útil e não deve ser ignorada logo a priori. O ideal é que sempre passem por alguma análise crítica de forma a se ter claros os motivos do porquê considerá-la, ou não, nas providências a serem tomadas. Além disso, perguntar sempre que não se está seguro a respeito de algo não é demérito para ninguém, já que por melhor que seja a formação do engenheiro, ou da engenheira, seu conteúdo acadêmico nunca englobará todo o conhecimento prático adquirido ao longo de anos por quem, de fato, executa uma determinada tarefa.

Um exemplo bastante curioso aconteceu quando alguns engenheiros, formados por escolas de primeiríssima linha, discutiam as causas da quebra de um componente produzido em aço carbono especial. Nestes casos, uma das principais análises a se fazer é a metalográfica que consiste no corte de uma seção (transversal ou longitudinal) da peça falhada e na sua preparação para ser observada em um microscópio ótico. Todos os cuidados, cruciais para a confiabilidade da análise, haviam sido tomados durante a preparação — que envolve o lixamento, o polimento e o ataque químico da superfície para dar o contraste. Ao observar a amostra no microscópio, depois de todo o processo, notou-se uma quantidade anormal de pontos de descontinuidade no metal, algo grave e que poderia, fatalmente, ter ocasionado a falha verificada na peça. Entretanto, não havia qualquer razão lógica para que um aço, aparentemente tão ruim, tivesse passado pelos controles de qualidade do fornecedor, chegando a ser usado na fabricação daquele componente específico.

Enquanto a equipe de engenheiros quebrava a cabeça para encontrar uma explicação plausível para o fato, outro engenheiro — de formação mais modesta, mas de enorme experiência — foi chamado para dar sua opinião. Olhou a microestrutura por alguns minutos e disse que não havia problema no material e, sim, na preparação daquela amostra. Os olhares incrédulos o acompanharam enquanto se encaminhava ao equipamento para polir a superfície observada uma vez mais. Ao retornar ao microscópio, analisou a amostra novamente e pediu para os demais verificarem como as tais descontinuidades haviam alterado sua distribuição na superfície — algo impossível de acontecer apenas com um rápido polimento. Explicou, então, que as descontinuidades observadas não pertenciam ao material, mas haviam sido produzidas, provavelmente, pelo resíduo de ácido usado na limpeza do pano de polimento.

E só assim aquele time de engenheiros, de melhor formação, conseguiu solucionar aquele caso aparentemente inexplicável...


Nenhum comentário:

Postar um comentário