sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Identificação Projetiva


Já há algum tempo que, por experiência própria, cheguei a uma conclusão: nada que está externo a nós mesmos tem o poder de nos atingir emocionalmente. Eu sei... A afirmação é absolutamente polêmica! Mas, se lhe conforta saber, apesar de eu ter chegado a essa conclusão por conta própria, a ideia não é minha nem tampouco original. Os monges budistas meditam sobre ela há séculos! Além disso, há vários outros profissionais capacitados estudando a matéria de forma sistemática e muito mais séria do que este que lhe escreve.

É o caso de uma corrente psicanalítica, a Trilogia Analítica, coordenada por um médico psiquiatra uspiano chamado Norberto Keppe, que, dentre muitas outras coisas, estuda este fenômeno a que chamam de "projeção". Segundo eles, o fato de nos emocionarmos com algo externo decorre de uma identificação do próprio indivíduo com a pessoa ou situação em questão. Quando nos irritamos com alguém parado à nossa frente, por exemplo, é porque "lembramos" que somos lerdos, ou negligentes com os imprevistos do caminho, ou que não avançamos — mesmo na vida — na velocidade que gostaríamos, etc. Ao não admitirmos nossas próprias limitações, estas são censuradas pelo ego e projetadas na pessoa à nossa frente. Não acredita?! Então substitua a pessoa à sua frente por uma parede e reavalie sua irritação. Você se desviaria dela, simplesmente, ou teria ímpetos de socá-la?

Recentemente, lendo um destes informes corporativos enviado por um amigo meu, deparei-me com um trecho interessante, sobre como se manter saudável: "And don’t try to fix other people. Stare at your reflection when the shortcomings of others aggravate you." (algo como: "E não tente consertar as outras pessoas. Encare seu reflexo quando as limitações dos outros lhe irritarem."). A despeito do estilo "auto-ajuda" do texto, é inegável que os autores alemães, Kustenmacher e Seiwert, que nada têm de psicanalistas, acabaram se referindo ao mesmo problema e de uma forma muito similar à descrita pelo modelo psicanalítico. É bem provável, portanto, que minha polêmica conclusão não esteja, assim, de todo equivocada.

Acontece, entretanto, que o modelo, apesar de simples, é muito difícil de ser aceito por demandar da pessoa uma considerável pré-disposição em compreendê-lo. Não é nada trivial inverter o ônus de uma situação que nos aborrece, mas talvez seja mais viável — e didático — fazer isso com alguma outra que nos emocione positivamente, já que o mecanismo é o mesmo.

Sabe quando nos emocionamos? Quando dá aquele nó na garganta ao ver seu trabalho reconhecido ou saber da história de luta de alguém? Pois bem, se a hipótese for correta, a emoção positiva também decorrerá de uma identificação de algo presente no indivíduo com a outra pessoa ou situação externa. Assim, se tiver a oportunidade de vivenciar tal situação, ou mesmo se lembrar de alguma, procure identificar as virtudes, na pessoa ou na situação, que deram origem a essa comoção, tais como coragem, desprendimento, garra, altruísmo, etc. E talvez perceba que muitas dessas qualidades, se não todas, também são suas. Por isso da emoção com a outra pessoa ou situação...

Mas, por favor, só depois disso, tente o mesmo exercício com as situações que lhe frustram. Há uma vantagem que, se obtiver sucesso neste segundo nível, é bem provável que as tensões geradas no dia-a-dia diminuam, a medida que vai-se tomando consciência das próprias limitações — mesmo que não as admita para mais ninguém! Afinal, corrigir-se, apesar de difícil, é algo possível. Diferente de tentar convencer uma "porta" que ela está no lugar errado...

Bom, há desvantagens também, mas elas se resumem na coragem necessária para encarar as próprias limitações, justamente tão bem projetadas no outro pelo ego. Lembra?!



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