segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Non ducor duco


O pessoal da prefeitura esteve na rua da minha casa e cortou outra das já pouquíssimas árvores que ainda restam por aqui. Pode parecer estranho, mas em mais de trinta anos, não me recordo de ninguém da prefeitura plantando na rua uma rosa que fosse...

E deu trabalho para levar a árvore! Passaram boa parte da manhã com uma motosserra, cortando o tronco que parecia não querer ser posto aos pedaços no caminhão. A rua ficou mais triste e o cheiro da fumaça prenunciava as dezenas de quilogramas de carbono que a árvore, morta, devolveria ao ar posteriormente. Mas, como me disse um vizinho em outra ocasião, um trabalho a menos, já que não haverá mais folhas caídas pelo chão.

A capital paulista é assim mesmo: dura como o concreto de seu progresso! Nas obras do governo estadual ao longo da marginal do rio Tietê, por exemplo, dezenas (talvez centenas!) de árvores também foram cortadas, sendo, segundo o governador, compensadas pelo plantio de "muitas" outras em alguma reserva próxima. Isto tudo para melhorar a fluidez do tráfego de veículos automotores em São Paulo que, de fato, é insuportável.

É irônico constatar, entretanto, que as zonas mais valorizadas da cidade são as mais arborizadas e/ou próximas a parques com muita área verde. Não apenas isto, a natureza é, frequentemente, o apelo de "marketing" dos vários lançamentos imobiliários que não param de surgir: "ampla área verde privativa", "acesso exclusivo dos moradores ao parque anexo", etc. Qualquer vendedor sabe que a presença de vegetação e água valoriza qualquer imóvel por melhorar sensivelmente a qualidade de vida.

Não por acaso, vários países vêm investindo pesadamente na "reconstrução" de suas áreas verdes, como a Coréia que acabou com as vias marginais ao longo do rio Han, transformando-o em uma jóia ecológica. Diferentemente da rica cidade de São Paulo — cujo PIB responde por quase 20% do nacional — que privilegia a "privatização" das áreas verdes, a impermeabilização do solo e a severidade do microclima.

Se, hoje, um apartamento com vista para o poluído Rio Pinheiros pode ser vendido por alguns milhões de reais (não, você não leu errado!), imagine a que valor o mesmo imóvel poderia chegar se o rio fosse vivo, navegável e com rica mata ciliar... Se as avenidas do entorno ostentassem muitas árvores e se houvesse mais praças e parques repletos de áreas verdes na região... Se a cidade exibisse alternativas de locomoção mais inteligentes e atrativas do que a tortura no trânsito paulistano... Se os turistas não mais sentissem cheiro de esgoto ao adentrar a zona metropolitana...

Mas se não for possível conduzir São Paulo à sustentabilidade, que pelo menos a cidade não conduza* nenhuma outra pelo mesmo caminho...



* "Non ducor duco" é o lema inscrito no brasão da cidade de São Paulo e significa: "Não sou conduzido, conduzo".

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