quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A Lenda do Empresário Exemplar.




"Contava a lenda que, em alguma dessas metrópoles contemporâneas, havia um empresário um tanto diferente dos demais... De hábitos comuns, ele, que vivera até então uma vida absolutamente ordinária, acabou por pedir as contas da empresa em que trabalhava para abrir uma lojinha próxima à sua casa. Muitos de seus amigos chegaram até a desconfiar de sua sanidade mental, uma vez que largara um emprego "seguro" para abrir um empreendimento igual a tantos outros naquela redondeza.

Iniciou vendendo exatamente as mesmas bugigangas que seus concorrentes e com o preço um pouco acima do que era praticado por eles. Entretanto, as poucas pessoas que chegavam a entrar ali surpreendiam-se com a simpatia, gentileza e genuína disposição do dono em servi-los bem, independentemente de comprarem algo, ou não. A diferença dos outros lugares era tão grande que as pessoas começaram a voltar só para sentir novamente aquele clima leve e amigável do lugar. Como uma espécie de gratidão, passaram a comprar uma coisa ou outra mais baratinha.

Logo, a lojinha passou a ficar cheia ao longo de todo o dia, praticamente, e os clientes, de tão satisfeitos, não mais se preocupavam em procurar os mesmos produtos mais baratos em outras lojas. Mesmo porque, quando havia qualquer problema em qualquer coisa adquirida lá, o dono da loja fazia questão de trocá-lo e, por vezes, até dava algum desconto em outra compra daquele cliente. Além disso, a lojinha passou a patrocinar alguns programas sociais do bairro, ajudar na coleta seletiva e na plantação de árvores, empregar pessoas da redondeza e até a fazer campanha pela exigência de notas fiscais pelos clientes, apesar de nunca solicitá-las na troca de qualquer produto. Diziam, inclusive, que em raras ocasiões, chegou até mesmo a trocar coisas que sequer comercializava, apenas para agradar pessoas que ele considerava especiais.

Não demorou a abrir outras lojas na cidade, sempre com o mesmo princípio de atender o cliente da melhor forma possível. Vez ou outra, tinha problemas com pessoas desonestas, mas o crescente fluxo de novos clientes, originados pelos cometários de seus satisfeitíssimos fregueses, superava, e muito, os eventuais prejuízos.

E como crescia muito, teve de selecionar e contratar várias pessoas para conduzir seus negócios, sempre as escolhendo pelo caráter e disposição de se desenvolver. Trabalhavam para ele desde gente com excelente formação escolar até quem mal sabia ler e escrever. Todos, entretanto, eram muito educados, humanos, simpáticos, prestativos e repletos de preceitos morais. O empresário também fazia questão de incluir nos benefícios, aquilo que melhor se adequasse às necessidades do funcionário, chegando até a patrocinar a instalação de uma creche, bem próxima a uma de suas lojas só para que uma funcionária, mãe solteira, pudesse trabalhar mais tranquila. Assim, muita gente queria ser empregada por ele...

Percebendo uma oportunidade, investiu quase que a totalidade de seus lucros de seu comércio na construção de uma pequena indústria. A fábrica produziria, exclusivamente, para atender seu comércio mas, concebida nos mesmos moldes, logo cresceu e passou a atender também as lojas de seus concorrentes. A partir daí, seus negócios cresceram exponencialmente.

Quando estava próximo de se tornar o maior pagador de impostos daquele país, o empresário sumiu sem deixar rastros. Após algum tempo, declarado legalmente morto, a fundação que criara para cuidar de seus negócios acabou por vender o controle das operações para grandes organizações concorrentes e se transformou em mais uma ONG comum. Toda aquela filosofia de trabalho acabou absorvida pelos complexos sistemas de gestão corporativa dos controladores foi esvanecendo até sumir por completo. Tudo voltara a ser como antes de surgir aquela pequena lojinha de bairro.

Alguns dizem que o empresário se cansou e foi viver uma vida mais tranquila. Outros acham que ele era um homem santo e, vez por outra, acendem velas e pedem para que ele interceda, de onde estiver, nos costumeiros problemas com produtos e serviços da cidade. Mas o fato, mesmo, é que nunca mais ninguém viu aquele empresário..."

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